Ao deixar ações judiciais, Bebianno lamenta ‘falta de consideração’ de Bolsonaro

No dia 18 de fevereiro, Bolsonaro demite o seu braço direito na campanha e ex-presidente do PSL, Gustavo Bebianno, da Secretaria Geral da Presidência, no meio de uma crise provocada por denúncias de uso de candidatos laranjas pelo PSL para desvio de verbas do Fundo Partidário nas eleições de 2018Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo 08/10/2018

Gustavo Bebiano nada cobrou pela defesa de dezenas de ações

Jussara Soares
O Globo

Quase dois meses depois de ter sido demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, o ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno começou a cortar os últimos laços que mantinha com o presidente. Advogado por formação, ele deixou na semana passada os processos em que defendia Bolsonaro na Justiça Eleitoral. Ainda restam as ações criminais e cíveis, mas o momento de “cada um seguir com a sua vida” chegou.

Ao longo de todo o trabalho em favor da família presidencial, Bebianno diz ter reunido 40 advogados que trabalharam de graça sob sua coordenação para defender os Bolsonaros em contendas judiciais. Um esforço, na avaliação dele, não reconhecido.

“EXÉRCITO” – A família Bolsonaro deve esse exército de advogados que atuaram de graça ao trabalho que eu fiz” – disse Bebianno ao Globo, complementando: “Apesar de ter sido chamado de mentiroso, e não ter tido uma gota de consideração depois de tudo que eu fiz, a minha posição profissional continua a mesma” – afirmou.

“Apesar de não ter tido nenhum tipo de consideração por parte do presidente, continuei tendo consideração por ele. No processo do Adélio, tem uma conclusão crucial, se ele é inimputável ou não. E foi graças à minha insistência que foi nomeada uma perita “– afirmou Bebianno.

A pedido de Bebianno e do empresário Paulo Marinho, o criminalista Antonio Pitombo atua como assistente de acusação no caso Adélio, considerado inimputável pelos peritos da Justiça. A psiquiatra forense Paula Campozan foi contratada por Bebianno para fazer uma nova avaliação sobre a sanidade de mental do esfaqueador. A perita cobrou R$ 15 mil reais pelo trabalho. A primeira parcela de R$ 5 mil foi paga pelo próprio Bebianno e posteriormente reembolsada pelo presidente.

“ATAQUE HISTÉRICO” – “Enquanto muita gente fica dando ataque histérico e fazendo gracinha na internet, quem tomava as providências efetivas era eu. Não adianta ficar xingando o Adélio, se não tiver um laudo dizendo que ele não é maluco. Eu que consegui a perita, coloquei no circuito e inclusive paguei a primeira parcela” – disse o ex-ministro sem nominar quem “fica dando ataque histérico e fazendo gracinha na internet”.

Bebianno afirma que pediu a Bolsonaro que indicasse advogados para substituí-lo em todas as ações, após o Globo ter divulgado uma conversa em que o presidente demonstrava preocupação com o valor que o então ex-aliado poderia cobrar em honorários. Na ocasião, em um diálogo com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o mandatário disse que teria que “vender uma casa para poder pagar” Bebianno, se ele resolvesse cobrar pelo serviço.

SEM PAGAMENTO – “Quando vazou o áudio do Onyx, entrei em contato com o presidente e disse: “o senhor não tem que me pagar nada, o senhor não me deve nada, o que eu fiz, como o senhor sabe, foi por acreditar em uma causa”. E pedi que ele arrumasse outro advogado” – disse.

Na semana passada, conforme revelado no blog de Bela Megale , Bebianno, a pedido do presidente, foi substituído pela advogada Karina Kufa em 30 ações eleitorais. Ao Globo, a advogada afirmou que também deve assumir processos civis e criminais, mas ainda faz o levantamento do volume de causas do presidente que tramitam na Justiça. Bebianno não vê a hora de encerrar o ciclo.

– Eu quero passar tudo, as ações civis e criminais, acho que cada um tem que seguir com a sua vida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *