‘A Frente Popular tem quadros prontos’, diz Geraldo

Prefeito Geraldo Julio (PSB)

Prefeito Geraldo Julio (PSB)Foto: Anderson Stevens/Folha de Pernambuco

O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), não ameniza o tom para criticar os 100 primeiros dias do Governo Bolsonaro, em entrevista à Rádio Transamérica. O gestor critica a falta de um olhar federal para o Nordeste e a concentração de recursos na União. Carro-chefe do novo governo, a proposta de reforma da Previdência também é atacada por, segundo ele, aprofundar as desigualdades sociais do País. Para o prefeito, a Frente Popular e o PSB devem unir forças para combater o projeto instituído no Planalto. Sobre as eleições de 2020, Geraldo prefere não antecipar os seus planos para a sua sucessão.

Como o senhor está vendo a crise e mudanças no Ministério da Educação. Isso atrapalhou os repasses para o município?

Vejo com muita preocupação porque o Governo Federal, ao longo dos anos, vem saindo do financiamento das políticas básicas de educação, saúde e assistência social. A gente viu esse governo fazer corte no orçamento da educação, foi um corte de R$ 5.8 bilhões. Aliás, os sinais que esse governo dá de Brasília são sinais muito complicados. O último ministro a ser escolhido nesse governo foi o da educação. Devia ser o primeiro a ser escolhido. Para mim, educação não está em último lugar, está em primeiro. Por isso, deu no que deu e agora eles mudaram de novo. Eu vejo com muita preocupação. A situação estrutural já era complicada. O Governo Federal já vinha saindo do financiamento da saúde, da assistência social e da educação durante alguns anos. Esse governo está saindo mais ainda. Esse governo está mostrando pouca sensibilidade social ou nenhuma.

Como o senhor vê a proposta do Governo para a Previdência?

Todo mundo sabe que o Brasil precisa rever a questão da longevidade já que as pessoas estão vivendo mais e, se estão vivendo mais, vão precisar passar mais tempo trabalhando e ter o mesmo tempo aposentado. Mas essa proposta que está sendo apresentada é uma proposta que acaba com o sistema de proteção social brasileiro e aposta em coisas que são desumanas e cruéis. Você colocar a culpa da previdência no aposentado que trabalhou a vida toda na zona rural e recebe apenas um salário mínimo? Um idoso vulnerável que ganha um salário mínimo depois de ter trabalhado a vida toda? É esse salário mínimo que está quebrando o País? Discordo frontalmente da proposta. Essa proposta que está castigando os pobres do Brasil. O Brasil é o nono País mais desigual do mundo e vai aumentar a desigualdade com essa reforma.

O senhor não discorda que tem que ter reforma, então?

Não discordo. Mas acho que temos que sair disso. Não é para ser uma reforma com dezenas de alterações, todas elas atacando as pessoas mais vulneráveis e que tem menos voz. Essas pessoas vão mais uma vez pagar as contas do País? Não dá. Meu partido apresentou em Brasília projeto de lei para taxar grandes fortunas. São pessoas que tem uma renda mensal acima de 320 salários mínimos. São pessoas que recebem mais de R$ 300 mil por mês e tem um patrimônio acima de R$ 20 milhões declarados no Imposto de Renda. Isso é o suficiente para gerar uma receita para a União de R$ 40 bilhões por ano. Mas quem tem que pagar a conta é o povo da aposentadoria rural? Esse governo que está instalado em Brasília não pode aprofundar a desigualdade.

No novo governo, quanto a PCR recebeu de recursos federais?

Tem uma coisa que é importante não confundir que é a repartição das receitas públicas. Inclusive, elas vêm diminuindo muito a participação das prefeituras nessas receitas. Em 88, quando a constituição foi promulgada, a cada R$ 4 que era arrecadado, três eram compartilhados com estados e municípios. Hoje, isso está na metade do que era em 88 porque foi concentrando recursos em Brasília e estados e municípios com menos participação no bolo de receitas e mais coisas para fazer. Em tempos de crise, recebemos nas escolas públicas do Recife 12 mil alunos que vieram das escolas particulares porque a família perdeu renda. E temos que ter sala, merenda, fardamento para esses alunos. No SUS, mais de 100 mil pessoas perderam plano de saúde no Recife. Então, as prefeituras são pressionadas pela crise econômica a atender mais gente. Não tem nada extraordinário que tenha chegado (de recursos federais no Recife) e não tenho notícias que tenha chegado para prefeitura nenhuma.

Como o senhor conduzirá a sua sucessão para 2020?

A gente vive um tempo onde minha dedicação e esforço é para ajudar o povo do Recife a atravessar esse tempo que o povo brasileiro, sobretudo, o Nordestino está passando. Esse governo sequer tem um ministro nordestino. O povo está pagando uma conta alta demais. O Recife está no Nordeste, estamos lutando junto com a população. Junto de quem está precisando de uma creche, quem está precisando de uma ação nas barreiras dos morros, quem está preocupado com quem está passando pela Conde da Boa Vista. Meu esforço está voltado para isso. Mas tem um tempinho. À noite, no fim de semana quando a gente começa a esquadrinhar e pensar na eleição do ano que vem. Mas vocês sabem que o PSB tem uma tradição de discutir o processo eleitoral somente quando é ano eleitoral. É algo que fazemos para respeitar a população.

A votação de João Campos para deputado federal e o fato dele ser herdeiro de Eduardo Campos dão a ele uma credencial diferenciada para disputar a sua sucessão?

Acho que a Frente Popular tem diversas alternativas e diversos quadros prontos para essa disputa do ano que vem. É aquela velha história, eu não gosto de antecipar essas questões. Eu prefiro ir tratando as questões que interessam diretamente a vida das pessoas. Tem muitas discussões lá em Brasília que não passa por isso.

Alguns setores do PT andam chateados com a aliança com o PSB. Como você está lidando com essa articulação?

A gente tá procurando juntar o máximo possível aqueles que não acreditam nas ideias do presidente, que está lá em Brasília colocando tanta coisa ruim para o povo brasileiro. Estamos procurando juntar aqueles que não acreditam nessas ideias de ultra direita. Acredito que o País vai voltar a ter o debate político. Até um tempo atrás tava de um jeito que nem debate político podia ter. O Brasil vai voltar a ter um debate de bandeiras e ideias. O presidente de ultra direita defende ideias retrógradas, completamente ultrapassadas. A ideia é reunir quem acredita em liberdade, quem acredita em democracia, quem acredita que a educação deve ser tratada sempre com prioridade.

A esquerda na Câmara do Recife se aproximou do seu governo?

A forma como o governo federal está se posicionando leva um esforço conjunto de todos que acreditam em democracia e que acreditam que a desiguldade social esteja no centro do debate e das prioridades das políticas públicas.

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