Greve de caminhoneiros teria efeito muito pior do que segurar o preço do diesel

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Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Marcello Corrêa e Bruno Goés
O Globo

Apesar das perdas bilionárias da Petrobras, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de suspender o aumento do preço do diesel foi vista na equipe econômica como uma forma de evitar prejuízo maior. Na avaliação de uma fonte do Ministério da Economia, o país não poderia correr o risco de passar por uma nova greve de caminhoneiros em um momento em que a economia patina. No ano passado, o PIB cresceu apenas 1,1%, frustrando as projeções que chegavam a 3% antes da paralisação. Só em um mês, as perdas na economia chegaram a R$ 15,9 bilhões.

“Para nós, no ano passado, a greve foi o principal fator de jogar para baixo a perspectiva de crescimento. A economia está sem tração. A última coisa que poderia acontecer é uma greve do nível que aconteceu. Acredito que o presidente suspendeu para discutir”, afirmou esta fonte.

UM IMPASSE – Ainda de acordo com esse integrante, a equipe econômica ainda não se reuniu para discutir qual será a reação à crise que colocou o governo em um impasse: garantir a saúde financeira da Petrobras e, ao mesmo tempo, não causar atritos com os caminhoneiros. Em viagem pelos EUA, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda não se pronunciou sobre o episódio e sinalizou que não foi consultado por Bolsonaro sobre o assunto.

A estratégia vai ser discutida em reuniões na próxima semana. Uma das opções na mesa é a criação de um sistema para amortecer a oscilação de preços nas bombas, como o que deveria ser a Cide, que acabou sendo desvirtuada.

Nesse modelo, a tributação sobre os combustíveis aumentaria quando o petróleo estivesse mais caro e diminuiria, quando a cotação do óleo subisse. A medida, no entanto, precisaria ser incluída em uma reforma tributária ainda em elaboração. Além disso, dependeria do avanço da reforma da Previdência, já que presumiria uma renúncia de arrecadação.

DESDE TEMER – Essa ideia chegou a ser proposta durante o governo de Michel Temer, mas não avançou. No governo de transição, a possibilidade também foi levantada pela equipe econômica em formação, quando se debatia o que substituiria o subsídio ao diesel que vigorou até dezembro,

Na Câmara, os deputados já se movimentam para pressionar o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em depoimento à Comissão de Minas e Energia. Um convite ao executivo foi aprovado há dez dias para que ele falasse justamente sobre a política de preços da estatal. Havia a negociação para que ele fosse à Câmara em maio. Mas, diante da intervenção de Bolsonaro, pode haver uma antecipação e até mesmo uma convocação.

— Vamos dialogar (sobre o assunto) na segunda-feira, pois de fato achamos muito perigoso o acontecimento. Afinal, o governo federal tem assento no conselho e faz parte das decisões. Não foi bom, na nossa avaliação, para o presidente da República nem para Petrobras. É pior ainda para os acionistas — diz Silas Câmara (PRB-AM), presidente da comissão.

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