Omar al-Bashir foi deposto e preso por militares nesta quinta-feira, 11, após meses de protestos contra seu governo no Sudão
A queda ocorreu em Cartum, capital e sede do governo, e foi anunciada durante a madrugada, em um pronunciamento na TV, transmitido em rede nacional, pelo ministro da Defesa, Ahmed Awad Ibn Auf.
Segundo noticiou a rede Al Jazeera, no comunicado, Ibn Auf disse que Bashir foi preso e levado a “um lugar seguro” e que um conselho militar assumirá o comando do Sudão num governo de transição.
Ibn Auf anunciou três meses de estado de emergência no país, a suspensão da Constituição de 2005, a dissolução da presidência, do Parlamento e dos ministérios. Ele também informou que o espaço aéreo do Sudão será fechado por 24 horas e as fronteiras por tempo indeterminado, além de impor um toque de recolher das 10h da noite às 4h da manhã.
Omar al-Bashir comandou o Sudão em um regime que durou três décadas. Ele chegou ao poder em 1989, através de um golpe de Estado. Desde então, controla o país com mão de ferro.
Bashir é alvo de dois mandados expedidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Os mandados são referentes ao conflito de Dafur, em andamento desde 2003.
A região é alvo de disputa entre rebeldes separatistas, milícias árabes e forças do governo e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), desde o início do conflito, 300 mil pessoas morreram e 2,3 milhões foram forçados a deixar suas casas.
Há meses o Sudão vem sendo tomado por protestos populares contra Bashir. As manifestações tiveram início em dezembro do ano passado e se intensificaram desde então, em especial nos últimos dias. De acordo com o Comitê Central de Médicos do Sudão, desde o último sábado, 6, 22 pessoas morreram e 153 ficaram feridas em decorrência de confrontos com forças do governo.
Recentemente, o exército ganhou simpatia dos manifestantes por defendê-los das milícias leais a Bashir. A queda de Bashir foi celebrada pela população, mas as entidades que lideraram os protestos contra o líder deposto afirmam que vão continuar se manifestando até que um governo civil assuma o país.
“Estas pessoas permanecerão em protestos pacíficos, junto a outros manifestantes, até que tenhamos uma liderança civil em conformidade com a declaração de liberdade e mudança”, disse a Associação de Profissionais Sudaneses, em uma postagem no Twitter.
A posição foi respaldada por outras organizações que encabeçam os protestos desde dezembro, como a Girifna, um movimento de resistência. “Queremos um período de transição de quatro anos, no qual tecnocratas assumam o país para prepará-lo para a democracia. Queremos um exército que nos proteja, não um exército que nos comande”, disse à rede Al Jazeera Hajouj Kouka, um integrante do movimento.
Os protestos contra Bashir foram motivados pela crise econômica que afeta o Sudão, especialmente após a separação do país – que originou na criação do Sudão do Sul, em 2011. O Sudão tem uma economia calcada em petróleo, recurso que representa 95% das exportações do país e metade das receitas anuais do governo.
Porém, após a separação de 2011, o país perdeu a maior parte de seus campos petrolíferos, que ficavam na região sul. Desde então, o país sofre com uma crise econômica que irrompeu em protestos em 19 de dezembro do ano passado, na cidade de Atbara, no leste do país, após o governo anunciar que triplicaria o preço do pão. Os protestos rapidamente evoluíram para manifestações nacionais contra o regime de Bashir.
O&N