PSDB e PMDB não aceitam participar da base aliada e continuam “independentes”

“PSDB não aceitar cortar benefícios dos pobres”, afirma Alckmin

Gustavo Uribe e Thais Bilenky
Folha

Adversário de Jair Bolsonaro (PSL) na campanha de 2018, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) rebateu o discurso contra a velha política feito pelo atual presidente da República, após encontro entre os dois nesta quinta-feira (4) no Palácio do Planalto. “Não existe nova e velha, existe boa e má política. A boa política não envelhece”, afirmou Alckmin, presidente nacional do PSDB.

O tucano afirmou que o PSDB manterá sua posição de independência em relação ao governo, “não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargo do governo, e votamos com o Brasil”.

DIÁLOGO – Depois de seguidas declarações de Bolsonaro associando negociações com o Congresso à corrupção e de seu embate com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Alckmin defendeu o diálogo. “Quanto mais a gente ouve, menos a gente erra. Política não é troca-troca, é o diálogo”, disse.

Ele citou Ulysses Guimarães, que presidiu a Câmara e liderou a campanha pela redemocratização no fim da ditadura militar (1964-1985). “Saber ouvir é uma grande virtude. Dr. Ulysses, que era um estadista, dizia que o homem tem dois ouvidos e uma boca para ouvir mais do que fala”, lembrou.

Alckmin e Bolsonaro tiveram embates públicos durante a campanha. Mas, na reunião desta quinta, “a conversa foi boa”, segundo o tucano. “O presidente me cumprimentou falando, ‘olha, votei em você nas últimas eleições’”, afirmou. “Dr. Ulysses lembrava, não se guarda ressentimentos na geladeira.”

REFORMA – O presidente do PSDB defendeu a aprovação da reforma da Previdência, mas fez ressalvas ao texto apresentado pelo governo. “O importante na reforma é idade mínima e tempo de transição. A reforma é muito complexa, muito detalhista, muito longa”, comentou. “Nós não aprovaremos nenhum benefício menor que um salário mínimo. O BPC (Benefício de Prestação Continuada) nós somos contra, como também a questão rural. Se há diferença de idade na área urbana, por que não há na área rural?”, questionou.

O texto prevê que homens e mulheres se aposentem aos 60 anos no campo e 65 e 62, respectivamente, na cidade. “A reforma da Previdência precisa ser centrada em dois objetivos. O primeiro é justiça social. Não é possível permitir privilégios e é preciso proteger aqueles que mais precisam”, afirmou Alckmin.

Para ele, o setor público é fator de concentração de renda. “Altos salários [são] pagos pelo trabalhador de menor renda, através de impostos indiretos. Por isso sempre defendi o regime geral de Previdência Social, um regime igual para todos”, afirmou.

MDB DE FORA – No encontro entre os símbolos das chamadas nova e velha política, o rótulo foi desfeito, depois de criar uma crise entre governo e Congresso. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-senador Romero Jucá (MDB) se sentaram frente a frente e discutiram a questão.

“Ele terminou concordando que o que vale é a boa política e, portanto, tachar de velha ou nova é um desserviço”, disse Jucá, presidente nacional do MDB. “Ele falou que entende que o que existe agora é a boa política.”

A reunião entre os dois fechou a rodada de conversas de Bolsonaro com dirigentes partidários nesta quinta-feira (5) no Palácio do Planalto. Antes ele havia se encontrado com os presidentes do PRB, PSD, PSDB, DEM e PP.

VELHA POLÍTICA – O rótulo de velha política empregado por Bolsonaro sobre a forma tradicional de negociação irritou deputados e senadores e contaminou o ambiente contra o governo no Congresso. Bolsonaro agora tenta recomeçar a relação com o Legislativo.

Articulador político de destaque desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), sempre compondo com o governo da vez, Jucá afirmou que “essa questão de ser ou não ser base é uma questão passada”.

Segundo ele, “a discussão agora é temática, é por projeto, é por lei, é por dispositivos, é por posições que possam melhorar o povo brasileiro”. Disse que “o MDB não quer ser base, o MDB quer ter uma agenda, nós queremos mais, queremos ter o resultado do trabalho conjunto entre MDB e o governo”.

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