Olavo de Carvalho dobra aposta e ataca militares por alegada tutela a Bolsonaro

O seu principal alvo é o ministro general Santos Cruz (Secretaria de Governo), que disse à Folha de S.Paulo que é preciso restabelecer o diálogo entre Executivo e Legislativo e reinterpretar a suposta disputa entre as chamadas nova e velha política.

“O general Santos Cruz ofende de maneira brutal o nosso presidente: insinua que ele não tem maturidade para escolher sensatamente seus amigos e precisar portanto de um tutor, o próprio Santos Cruz”, disse o escritor nas redes sociais.

“O truque do Santos Cruz é camuflar sua mediocridade invejosa sob trejeitos de isentismo e acusar de ‘extremista’ quem o supera intelectualmente.”

É na tensão com a classe política que Olavo e o seu grupo no governo, a ala ideológica, apostam para manter o eleitorado de Bolsonaro mobilizado a seu favor. O canal direto com a população pregado por Olavo e discípulos preocupa o Congresso, que vê nos gestos uma tentação autoritária do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

“Sábio, no Brasil, só o povão. De gerente de posto de gasolina para cima, só tem palpiteiro bobão”, afirmou nesta segunda o polemista nas redes sociais. “O mal do Brasil é a elite mais inculta e presunçosa do universo”, disse.

Esse é o mesmo discurso adotado pelo presidente americano Donald Trump na campanha que o elegeu e depois, no cargo.

Olavo, seus alunos e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, estreitaram laços com o estrategista americano Steve Bannon, ex-assessor de Trump, demitido da Casa Branca considerado um traidor pela família do presidente americano.

À Folha de S.Paulo Santos Cruz disse que a indicação de cargos é normal no sistema político. “Vamos nos levantar das nossas cadeiras e conversar com os parlamentares. Temos que dar crédito para o nosso Congresso”, afirmou o ministro.

Sua declaração vem em meio à tentativa de apaziguar ânimos entre Bolsonaro e a cúpula do Congresso -ele trocou provocações públicas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) nas últimas semanas.

Os militares e a equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes (Economia), entraram em campo para encerrar o bate-boca. O principal objetivo de Guedes é conseguir aprovar a reforma da Previdência no Congresso.

Olavo de Carvalho, porém, mantém o fogo amigo. A Folha o procurou há uma semana para ouvi-lo sobre suas declarações, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Disse o polemista nas redes sociais que a volta dos militares ao poder é uma consequência de sua obra, que ele considera filosófica. Ele acusa os militares de terem se subordinado aos civis e à esquerda depois da ditadura, já tendo se referido aos generais como “bando de cagões”, entre outras ofensas.

“Santos Cruz: sem a minha obra de três décadas, da qual você nada sabe, você jamais teria chagado ao posto que agora ocupa. O presidente Bolsonaro é um homem grato. Você é apenas um monstro de auto-adoração e empáfia”, atacou.

“Sem mim, Santos Cruz, você estaria, como disse o Karim Sebti, levando cusparadas na porta do Clube Militar e baixando a cabeça, como tantos de seus colegas de farda”, insistiu.

No aniversário de 55 anos do golpe militar de 1964, neste domingo (31), o escritor radicado relativizou o papel do Exército e criticou “a fraqueza servil dos generais ante o avenço do movimento comunista que eles mesmos, ate hoje, se gabam falsamente de haver exterminado”

“As Forças Armadas jamais libertaram o país do comunismo. Libertaram-no, isto sim, das lideranças civis que o haviam libertado do comunismo”, disse Olavo. “Se é verdade que ‘pelos frutos os conhecereis’, a força invencível da esquerda ao fim do regime militar já diz tudo.”

Santos Cruz uma semana antes disse que  “nunca se interessou pelas ideias desse senhor Olavo de Carvalho”. E que, “com linguajar chulo, o desequilíbrio fica evidente”.

Olavo reagiu.

“Não venha agora choramingar que foi ofendido, Santos Cruz. Foi você que começou isso, sem a menor provocação, dois dias depois de eu o haver elogiado. Você simplesmente não presta”, afirmou.

“O general Santos Cruz alega como prova da sua superioridade moral sobre mim a sua ignorância da minha obra e desinteresse em conhecê-la.”

Até a publicação desta reportagem, Santos Cruz não respondeu aos contatos da Folha. A mídia também voltou a ser atacada pelo polemista.

(FOLHAPRESS)

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