Campanha de turismo apresenta ugandesas como produto a ser explorado, assim como a culinária. No passado, o Brasil também já investiu em campanhas do tipo
A campanha exalta as curvas das mulheres ugandesas e as apresenta como “um produto turístico” típico do país. A peça foi divulgada na última quarta-feira, 6, pelo ministro do Turismo, Godfrey Kiwanda, em uma coletiva de imprensa.
“Uganda é dotada de mulheres bonitas. Sua beleza é única e diversificada. Por isso decidimos usar esta beleza única, as curvas, para fazer dela, um produto a ser comercializado, junto com o que já temos no país, como a natureza, a língua e a comida, para torná-la uma atração turística”, disse o ministro.
Parte do plano para comercializar as mulheres ugandesas será feita através de um concurso de beleza, que em junho elegerá a Miss Curvilínea de Uganda. “A vencedora deste concurso será parte da marca de nossa campanha, usando a beleza como mais um produto de turismo”, disse o ministro.
A proposta enfureceu a população feminina do país, e várias mulheres passaram a pedir a renúncia de Kiwanda. “Isso é perversão. Pensar que as mulheres podem ser usadas como objetos sexuais nesta época e neste tempo é um absurdo”, disse Rita Aciro, diretora executiva da Uganda Women’s Network, à AFP.
A empreendedora e ativista Primrose Nyonyozi Murungi lançou uma petição online para interromper a campanha que, segundo ela, é “totalmente inaceitável e humilhante para” as mulheres.
“As mulheres ugandesas são atacas enquanto caminham pela rua. Agora, o governo está confirmando este estereótipo de que as mulheres são objetos sexuais e podem ser tocadas e ainda serem feitas de produto de turismo”, disse Murungi.
Kiwanda rebateu as críticas e afirmou que a campanha não tinha intenção de humilhar as mulheres. “Diverso como somos como um país, temos uma mensagem para destacar as diferentes curvas de nossas mulheres, o que acreditamos ser uma atração turística”, disse o ministro.
Turismo no Brasil
Na década de 1980, o Brasil também foi cenário deste tipo de turismo. Muitas campanhas de turismo da década usavam corpos femininos para atrair turistas estrangeiros para o país.
Chanceladas pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) as campanhas usavam as mulheres como um grande atrativo em folhetos oficiais.
Ao longo dos anos, a prática foi abolida, conforme informou, em entrevista dada ao portal G1 em 2014, o então presidente da Embratur, Flávio Dino.
“Isso foi eliminado hoje. Há um cuidado de não haver a exposição do corpo, de moças de biquíni. As pessoas que aparecem nas peças publicitárias estão sempre vestidas, mesmo na praia ou no samba”, disse Dino.
Outra forma de explorar as mulheres como atração turística era através de cartões-postais. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, conhecida mundialmente por suas praias, era comum encontrar em bancas de jornais cartões-postais, com mulheres, de costas, caminhando de biquíni pela praia.
A venda destes cartões somente foi banida em 2005, durante a gestão da então governadora Rosinha Matheus (Ex-MDB e atual Patriota), que aprovou um projeto de lei da deputada estadual Alice Tamborindeguy (Ex-PSDB e atual PP). Na época, a deputada afirmou que tais cartões-postais eram apelativos e estimulavam o turismo sexual. “É falta de respeito com as mulheres”, disse a deputada.
Fonte:
Aljazeera-Outcry after Uganda uses ‘curvy women’ to boost tourism
Folha de S.Paulo-Lei proíbe cartões-postais com mulheres seminuas no Rio