Atenção, Bolsonaro, presidentes não bloqueiam suas contas nas redes sociais

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Cora Rónai
O Globo

E aqui estamos, enfim, do lado de cá de um ano que, do lado de lá, parecia totalmente improvável: o ano de sentir saudades, se não do Temer, pelo menos da sua discrição e da sua ausência nas redes sociais. Presidentes tuiteiros são uma novidade relativamente recente, e o exemplo mais famoso, nos Estados Unidos, é um desastre em 280 caracteres (saudades também do antigo limite de 140).

Ainda é cedo para dizer como se sairá o presidente Bolsonaro nesse quesito, mas se o Bolsonaro-candidato e o Bolsonaro-presidente-eleito são uma pista, teremos muita polêmica e muitos malentendidos pela frente, com o risco concreto de desgastes gratuitos. Presidentes não têm assessoria de comunicação apenas para responder a eventuais perguntas da imprensa ou para organizar coletivas, mas também para conter confusões onde elas podem, e devem, ser evitadas.

LISTA DE TRUMP – O jornal “The New York Times” mantém uma lista de pessoas, lugares, coisas e instituições que o presidente Trump já insultou pelo Twitter, de al-Assad, o ditador da Síria (“Um animal”) a Zuckerman, proprietário do “The New York City Daily News” (“Um pateta” ). Ela foi atualizada no último dia 28 e conta com 551 nomes, alguns — como o próprio “The New York Times” — mencionados incontáveis vezes seguidas. É leitura estarrecedora.

Espero sinceramente que acompanhar o Twitter do presidente Bolsonaro seja aventura menos trepidante. E espero que ele, seus filhos e seus assessores entendam que a conta usada por um presidente para comunicar atos de Estado não é a mesma coisa que uma conta pessoal para manter contato com os colegas.

BLOQUEIO – Um pouco antes do Natal, Bolsonaro bloqueou jornalistas do “The Intercept”, uma publicação on-line que não faz segredo dos seus sentimentos a respeito do novo presidente. Independentemente do que ele ache ou deixe de achar do jornal, não pode mais fazer isso. Um presidente não pode sonegar informação pública a quem quer que seja, muito menos a jornalistas. Também não pode tapar os ouvidos a vozes dissonantes — que é, essencialmente, o que um bloqueio permite.

O presidente de um país é o presidente de todos os seus habitantes. Se o meio de comunicação do presidente com o povo é o Twitter, ele — ou quem quer que atualize a sua conta — tem de estar disposto a se comunicar com todos e aceitar os comentários de todos.

Essa questão já foi resolvida nos Estados Unidos, onde uma juíza federal determinou que o acesso público à conta de Donald Trump está protegido pela Primeira Emenda da Constituição, aquela que trata da liberdade de expressão. Bloquear este acesso seria, portanto, equivalente a um ato de censura.

CONTA PESSOAL – Lá como cá, um presidente não é um cidadão como outro qualquer. Se quiser ter a liberdade de só se comunicar com quem quiser, deve ter uma conta pessoal onde se abstenha de anunciar nomeações de ministros ou decisões governamentais.

Dito isso, vai ser interessante ver como Bolsonaro vai se comportar no Twitter daqui para a frente. Lembrando que a palavra “interessante” tem vários — e interessantes — significados.

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