Premier de Israel estará na posse de Bolsonaro, diz embaixador

Segundo Yossi Shelley, os dois países começarão a montar agenda completa para o futuro
Premier de Israel, Benjamin Netanyahu, durante reunião do seu Gabinete em Jerusalém em outubro de 2018 Foto: AMIR COHEN / REUTERS
Premier de Israel, Benjamin Netanyahu, durante reunião do seu Gabinete em Jerusalém em outubro de 2018 Foto: AMIR COHEN / REUTERS

BRASÍLIA — O embaixador de Israel no Brasil,   Yossi Shelley , disse ao GLOBO que o primeiro-ministro de seu país, Benjamin Netanyahu , estará na posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no próximo dia 1º. Shelley afirmou não serem verdadeiras notícias de que Netanyahu ficaria no Brasil apenas para se reunir com Bolsonaro na sexta-feira no Rio de Janeiro.

— O primeiro-ministro estará na posse de Jair Bolsonaro — informou o embaixador.

A decisão, no entanto, indica que Netanyahu mudou de ideia. Mais cedo, o GLOBO apurara com fontes ligadas à diplomacia israelense que de fato houvera desistência do premier de comparecer à posse.

Segundo o embaixador israelense, além de Bolsonaro, Netanyahu terá conversas com os ministros do próximo governo, entre os quais os da Defesa (Fernando Azevedo e Silva) e das Relações Exteriores (Ernesto Araújo). Ele explicou que a ideia é montar uma “agenda completa para o futuro”.

— Os dois países sempre tiveram boas relações, embora tenham ficado menos próximos nos últimos anos. Com o novo governo de Bolsonaro, sua declaração sobre a amizade e a importância de trazer tecnologias para o Brasil, surge uma nova época nas relações entre os dois países, que têm os mesmos valores democráticos e culturais — disse o embaixador.

Shelley destacou que Israel pode contribuir em  várias áreas em que o Brasil enfrenta problemas, como  a seca no Nordeste e a segurança pública.  Contra a seca, o país tem a oferecer tecnologia de dessalinização da água, que, no entanto, j á é feita  em programas públicos no Brasil desde 2004 sem participação israelense.

A ideia de fortalecer as relações entre Brasil e Israel foi sacramentada quando Bolsonaro declarou, assim que foi eleito, que iria transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Ao dizer isso, o presidente eleito causou preocupação entre os países árabes, que argumentam que Jerusalém não é reconhecida pela ONU como a capital israelense. Perguntado sobre a questão, Shelley afirmou:

— Não posso responder por eles [os países árabes].

Atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes assegurou que o governo do presidente Michel Temer sempre manteve ótimas relações com Israel. Ele destacou áreas como meio ambiente, investimentos em infraestrutura, tecnologia, defesa e segurança pública. Lembrou, ainda, que Israel tem um acordo de livre comércio com o Mercosul e vários outros tratados de parceria.

— Israel já tem uma presença muito grande em defesa e segurança, mas pode melhorar — disse Nunes.

Segundo uma fonte da equipe de transição do próximo governo, existe a expectativa de o Brasil, com esse fortalecimento nas relações com Israel, aumentar suas exportações para aquele mercado. A balança comercial com o país foi desfavorável ao Brasil em US$ 767 milhões no ano passado.

Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que, em 2017, as exportações brasileiras para Israel somaram US$ 293 milhões, valor 27,07% inferior ao que foi contabilizado no ano anterior. Já as importações de produtos israelenses atingiram US$ 1,060 bilhão, uma alta de 29,74%.

Os principais produtos vendidos pelo Brasil ao mercado israelense são carne bovina congelada, soja e suco de laranja. Já as importações daquele país se têm como principais itens cloreto de potássio, inseticidas e materiais plásticos.

Desistência por situação política

A desistência inicial de Netanyahu de comparecer à posse partira da avaliação de que o líder israelense não poderia ficar uma semana distante do seu país, em meio à abertura do processo eleitoral antecipado no país.

A decisão fora tomada na terça-feira, um dia depois de a coalizão de governo se reunir e resolver, de forma unânime, dissolver o Parlamento e convocar o pleito para abril. As eleições legislativas israelenses estavam previstas para novembro de 2019. Neste contexto, as eleições primárias do Likud, o partido de Netanyahu, ocorrem na primeira semana de fevereiro.

Levantamento de intenções de voto divulgado na terça-feira, o primeiro desde a dissolução da coalizão, estima vitória fácil de Netanyahu nas eleições de abril. Com o pleito, o premier tenta um novo mandato, que lhe permita governar de modo mais sólido, em meio às investigações. Publicada pelo jornal israelense Maariv, a pesquisa prevê que o Likud consiga 30 cadeiras no pleito — mesmo número obtido nas urnas em 2015 — e some maioria de assentos no bloco de direita do qual é líder.

O líder israelense havia inicialmente confirmado presença na posse de Bolsonaro em 29 de novembro. Foi a primeira — e uma das mais altas — autoridade internacional a aceitar o convite do governo eleito.

Até por ocorrer em 1º de janeiro, a posse de presidentes brasileiros não costuma contar com a presença de líderes internacionais. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, representará Washington no evento. Os dois países integram a linha de frente da política externa do governo Bolsonaro, visto com hesitação por parte da comunidade internacional após anunciar mudanças em posturas tradicionais da diplomacia brasileira. A equipe de transição confirmou a intenção de transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, a retirada do país do pacto global de migração da ONU e enunciou críticas ao Acordo de Paris sobre o clima.

Pelo Twitter, nesta terça-feira, Bolsonaro anunciou que o futuro ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, visitará Israel em janeiro para negociar parceiras na área.

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