Empresária pediu para filha não matá-la: ‘Eu não tenho mãe’, foi a resposta

Jovem disse à polícia que usou formol para entorpecer a mãe com o objetivo de facilitar a asfixia com saco plástico

O viúvo Manuel da Silva mostra foto da mulher morta Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

O viúvo Manuel da Silva mostra foto da mulher morta Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

“Não me mate, filha! Sou sua mãe. E te amo!”

“Eu não tenho mãe!”.

Esse foi o último diálogo entre a comerciante Dircelene Botelho, de 51 anos, e sua filha única, Paloma Botelho de Vasconcelos, de 21, presa junto com o namorado, Gabriel Neves, de 26 anos, depois de confessar o assassinato de Dirce , como a vítima era conhecida em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Ocorrido no último dia 2, a morte, que aconteceu dentro do quarto da vítima, causou comoção na cidade me deixou perplexo o viúvo de Dirce, o comerciante Manuel da Silva, de 68 anos. Segundo Manuel, o diálogo foi descrito pela própria Paloma na 105ª DP (Petrópolis).

“Ela me pediu para comprar formol dizendo que seria para fortalecer suas unhas. Até que ponto ela poderia ir?”

MANUEL DA SILVA
Viúvo

– Se mãe e filha têm uma briga e, numa discussão acalorada, uma empurra a outra e alguém bate com a cabeça numa mesa, por exemplo, e morre, é uma coisa, uma fatalidade. Mas, quando uma pessoa planeja com requintes de detalhes a morte da própria mãe e ainda faz simulações para esconder o crime, abrindo o portão de casa às escondidas para que o cúmplice, o namorado, entre agachado, é assassinato. Ainda não estou com a razão plena. Estou meio abobalhado. Sem querer acreditar no que aconteceu. Ela me pediu para comprar formol dizendo que seria para fortalecer suas unhas. Até que ponto ela poderia ir? – indagou Manuel da Silva, que ainda prepara uma foto da mulher para colocar na lápide do túmulo no Cemitério Municipal de Petrópolis, onde se encontram os restos mortais de sua mãe, de seu pai e de uma tia.

Aos poucos, Manuel da Silva disse que vai montando um quebra-cabeças. A confortável casa onde a família morava no Bingen tem muitas câmeras de segurança. A residência fica no sobrado e há uma loja de móveis embaixo. Todo o prédio de três andares pertence à família. Câmeras internas flagraram o momento em que Paloma abre a porta para Gabriel entrar e ajudar a executar o crime.

– Dirce guardava dinheiro para compras de mercadorias para vender nos seus boxes, na Feirinha de Itaipava, numa gaveta. Ela começou a notar a falta de R$ 300, R$ 400, R$ 500, sucessivamente. Instalamos uma câmera escondida que mirava o armário e a gaveta. Mas além disso, a casa tem muitas câmeras – explicou.

O viúvo Manuel da Silva mostra foto da mulher morta Foto: Marcio Alves / Agência O Globo
O viúvo Manuel da Silva mostra foto da mulher morta  Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

Manuel contou que, após o crime, foi ver as imagens e notou que Gabriel, que não entrava na casa da família há cerca de um ano em razão de uma discussão com Dirce, aparece, no dia da morte, entrando pelo portão principal e subindo a rampa de acesso ao sobrado sorrateiramente.

– Depois, uma outra câmera mostra Paloma distraindo a mãe e levando-a para o quintal. Nesse momento, uma outra câmera flagra Gabriel engatinhando em direção à porta de acesso à residência para não ser visto por Dirce. Após um tempo, Paloma ofereceu uma massagem à mãe e pediu que ela deitasse no chão. Foi quando ela chamou o Gabriel e ambos imobilizaram Paloma e colocaram um chumaço de plástico em sua boca. Como ela resistiu e rasgou o plástico com os dentes os dois passaram a usar o formol. Deve ter sido um momento de muito sofrimento para Dirce, uma pessoa muito querida em toda a cidade – relatou Manuel da Silva, que é natural do município de Mondim de Basto, no Norte de Portugal.

Segundo Manuel da Silva, o formol acabou sendo comprado por conta própria por Paloma. A embalagem plástica com o produto ainda se encontra no banheiro da jovem na casa da família. O produto, segundo depoimentos de Paloma à polícia, foi usado para entorpecer Dirce a fim de facilitar a asfixia com saco plástico. Paloma ainda teria tentado aplicar uma injeção de ar para forçar uma embolia.

O delegado André Prates Fraga, da 105ª DP (Petrópolis), explicou que o laudo cadavérico aponta que a morte foi causada por asfixia mecânica por sufocação. A hipótese de que a morte teria sido causada pela injeção de ar no corpo da vítima foi descartada pela perícia técnica, de acordo com o laudo.

“O laudo indica que a causa mortis decorre de asfixia por sufocação direta e que a inserção de ar no sistema circulatório, gerando embolia gasosa, é algo difícil de acontecer, algo mais para a mídia do que para a realidade”, diz um trecho do laudo preparado pelo médico legista autor da necropsia no corpo de Dirce.

O delegado explicou que o corpo de Dirce foi liberado para sepultamento mesmo com um laudo de asfixia mecânica por sufocação porque não havia indícios de crime.

– Desfizeram a cena do crime e o marido achou que a mulher tinha sofrido um infarto. A filha vestiu a mãe, pintou seu rosto e colocou o corpo sobre a cama para simular uma morte por causa natural. Quando há asfixia, geralmente há luta corporal. Mas nesse caso não havia sinais evidentes de ferimentos nem no corpo da filha da vítima nem no de seu cúmplice. Acredito que o formol tenha feito a vítima desfalecer, ficando mais fácil a prática da asfixia mecânica – comentou o delegado André Prates.

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