A três dias da eleição, ex-secretário acusa Paes de ter recebido propina

Após ser preso, chega à Superintendência da PF no RioFoto: Gabriel de Paiva/03-08-2017 / Agência O Globo

Alexandre Pinto era secretário de Obras na gestão

Hudson Corrêa
O Globo

Ex-secretário municipal de Obras da gestão Eduardo Paes , Alexandre Pinto acusou o ex-prefeito de ter recebido propina em grandes obras da prefeitura do Rio. Durante depoimento ao juiz Marcelo Bretas, nesta quinta-feira, ele afirmou que Paes negociou propina de 1, 75% sobre o contrato da Transoeste de R$ 600 milhões, tocado pela Odebrecht . Ele afirmou ainda que o esquema envolvia o Tribunal de Contas do Município do Rio, que ficaria com 1% de propina. O interrogatório ocorre a três dias da eleição para governador, cuja disputa é liderada por Paes de acordo com as pesquisas.

Em delação premiada, os ex-executivos da Odebrecht Benedicto Junior e Leandro Azevedo, citados hoje no depoimento pelo ex-secretário, confirmaram o repasse de dinheiro a Paes, mas disseram que era caixa dois de campanha. Em depoimentos exibidos pela TV Globo, Júnior e Azevedo negaram o pagamento de propina e o recebimento de benefícios e de vantagem pessoal por Paes.

LADRÃO CONFESSO – Em nota, Paes desqualificou as acusações e chamou de “ladrão confesso” o seu ex-assessor. “As acusações do senhor Alexandre Pinto são totalmente mentirosas e confrontam seus próprios depoimentos anteriores, quando nunca mencionou envolvimento meu com quaisquer irregularidades”.

O ex-secretário é investigado na Operação Lava-Jato, acusado de desvio de dinheiro público, na obra da Transcarioca durante o governo Paes . Em agosto de 2017, foi preso durante a Operação Rio 40 graus, desdobramento da Lava-Jato que investigou um grupo suspeito de receber R$ 35,5 milhões em propina oriunda de obras públicas. As apurações tiveram como base a delação da empreiteira Carioca Engenharia. Em novembro do mesmo ano, foi libertado, mas acabou sendo preso novamente dois meses depois, na operação Mãos à Obra, que investigava um esquema de propinas nas obras do BRT Transbrasil.

De acordo com Paes, os próprios dirigentes da Odebrecht, que depuseram na Lava- Jato, sempre negaram que ele tivesse recebido propina ou vantagem pessoal. O mesmo fizeram os dirigentes de todas as outras empreiteiras investigadas na Lava-Jato, diz o prefeito. “Basta ouvir os depoimentos, que desmentem, enfaticamente, qualquer tipo de benefício a mim”.

A nota de Paes ainda acusa Alexandre Pinto de já ter admitido seus crimes.

“O senhor Alexandre Pinto, ladrão confesso, no afã de conseguir benefícios penais, agora diz que “ouviu falar” sobre esta mentira de um dirigente da Odebrecht, às vésperas das eleições. É no mínimo curioso, para não dizer suspeito, que a declaração do senhor Alexandre Pinto tenha ocorrido a três dias do primeiro turno eleitoral, sem oferecer nenhuma prova. Há mais de um ano e meio, venho sendo atacado sistematicamente, sem que surgisse nenhum indício concreto contra mim. Sigo minha campanha confiante na Justiça e na capacidade de discernimento da população.”

INDIGNAÇÃO – O Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro afirma ter recebido com indignação as acusações feitas pelo ex-secretário, não as reconhecendo e nem as admitindo. Em nota, o órgão diz que o ex-secretário esteve por diversas vezes na sede do TCM, sendo sempre recebido para tratar de assuntos do interesse da cidade do Rio. O TCM afirma que sempre manteve com os prefeitos que governaram e governam este município apenas relações de interesse institucional e nada mais. O TCM sempre colocou todos os processos que tramitam neste tribunal à disposição das autoridades, mídia e sociedade.

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