Quem vai botar fogo no Museu do Sexo

Na próxima feira será vendido um aparelho para medir se você gozou na média estabelecida pela OMS

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Por Joaquim Ferreira dos Santos – O Globo

Semana passada, o Museu Nacional incendiado, fui ao Museu do Sexo, a Sexy Fair que abriu na Cidade Nova. No auditório, a moça de biquíni sadomasô sentava no colo de um homem. Cavalgava o cidadão por dois, três trotes, depois lhe empurrava boca adentro a garrafa de tequila que carregava no coldre. Era uma “Tequilera”. Com álcool nas veias e exposta às labaredas do frisson sexual, ela queria explodir o prédio. Eu fiquei por lá umas duas horas. Estava pronto para o sacrifício profissional de me deixar imolar nas chamas do incêndio orgástico. Nada. O Museu do Sexo não pegou fogo.

Era uma feira como essas de food-truck, com a diferença de que as pessoas não avaliavam a grossura do hamburguer, mas os músculos dos strippers. Havia dançarinas de pole-dance, caubóis de sunga branca. Entre os shows, eles se faziam de figurantes para selfies do tipo “Zorra Total”. Eram apertados por senhoras a quem, fossem outros os tempos, pediriam a bênção. Algumas carregavam nas bolsas vibradores recém-comprados. Os vendedores prometiam que eles brilhariam estroboscópicos, trepidariam cibernéticos e levariam todas a êxtases de alta definição —ou seu dinheiro de volta.

É uma pena constatar, mas Chico Buarque estava certo. Não existe mais pecado original debaixo do Equador — só bons negócios. O sexo nos tempos da permissividade ampla-geral-e-irrestrita está deixando muito a imaginar. Frustra mais do que libera. Será só isso? — perguntam-se os novos libertinos enquanto fuçam as vitrines.

Era um museu de novidades sexuais, ninguém buscava fantasia, essa delícia incomprável. Perguntava-se por eficiência. Ferro na boneca. A propósito, havia algumas delas, em plástico não inflamável, todas com bocas dramaticamente abertas. Também queriam mais. Se o sexo deixou de ser problema, distante apenas a um toque no aplicativo, busca-se agora o orgasmo impossível. Quero aquele de plenitude desconhecida até pela gritaria que vem do 302. Onde tem? Quanto?

Eram centenas de gadgets, inclusive a mão de silicone prometendo mais suavidade e rapidez para a masturbação masculina. Nada se falou sobre imaginação, beijo na boca, “eu te amo” e demais sacanagens escondidas no botãozinho da cumplicidade romântica. A moda é o sexo técnico — e na próxima feira será vendido um aparelho para medir se você gozou na média satisfatória estabelecida pela Organização Mundial de Saúde. É preciso se aperfeiçoar, diziam os panfletos. Graziele Vieira palestrou sobre “vaginoterapia”. Anunciou que loucura mesmo é o “pompoar com pedras preciosas”.

Havia chicote, filipeta para clube de swing, lingerie comestível, terapia tântrica. Todo esse comércio da nova civilização do prazer distribuía pela feira a sensação de que o sexo que você faz está defasado. Há uma versão 9.0 melhor na praça. Leia a bula. Busque resultado. A publicidade desse sexo infinito — as posições inéditas do Kama Sutra digital — é o novo obsceno.

Homens e mulheres não se conformam. Onde encomendar esse orgasmo múltiplo com o plus do espocar da estrela boreal? Os casais vão ao Museu do Sexo na esperança de que, com o novo hot-gel hortelã, seus corpos finalmente peguem o fogo certo. Perdem tempo nessa compra-e-venda de bugigangas. Sexo é mais em cima. Põe tudo pra fora, depois põe tudo pra dentro —mas não bota CPF na nota.

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