Sebo em Olinda aposta na literatura como mote para encontros presenciais

No Sebo Casa Azul, de Samarone Lima, a venda de livros ganha caráter de experiência mais ampla, a partir de programação cultural, como saraus, e oficinas artísticas

Samarone Lima realiza vivências no sebo Casa Azul

Samarone Lima realiza vivências no sebo Casa AzulFoto: Paullo Almeida/Arquivo Folha

Além das livrarias, no passado o Recife também contava com uma rica tradição de sebos. Entre os vendedores de livros usados havia nomes famosos como Melquisedec Nascimento, que funcionava na Praça do Sebo (por trás da avenida Guararapes) e Eurico Brandão, situado na rua da Matriz, próximo ao Teatro do Parque.

Ambos sucumbiram ao tempo e à decadência do mercado livreiro recifense: Melquisedec faleceu em 2011, com quase 90 anos, e Brandão se aposentou no início deste ano, também com cerca de nove décadas de vida, levando seu valioso acervo para Salvador (BA), onde foi viver com uma de suas filhas.

Hoje, o comércio de livros usados persiste, concentrando-se na Praça do Sebo e na rua Corredor do Bispo, na Boa Vista. A maioria, porém, dedica-se principalmente ao comércio de livros escolares.

Indo de encontro à tendência, chama atenção a iniciativa da Casa Azul, em Olinda, que vai além da venda de livros e vem se consolidando como um espaço de encontro literário.

Criado em março de 2017, o sebo de Samarone Lima congrega as qualidades que o editor Wellington de Melo aponta como necessárias para transformar a visita a um espaço de venda de livros em uma experiência mais ampla. “O futuro está no passado, nos sebos, nos cafés, nos bares, criando nesses microespaços maneiras de dar uma sobrevida às livrarias.

Nos EUA, existe uma série de iniciativas independentes que retomama a perspectiva de enxergar as livrarias como lugares de convivência e não simplesmente supermercados de livros, como acontece nas grandes redes. Não desenvolvo relação afetiva com supermercados”, critica Wellington.

Ele se refere às “indie bookstores”, pequenas livrarias que vêm fortalecendo uma tendência de criar experiências em espaços menores, como clubes de leitura e outras atividades, e realizam um movimento nacional todo mês de abril, mobilizando centenas de seguidores.

Samarone mora e vende livros na rua Treze de Maio, 121, no sítio histórico de Olinda. Mas percebeu que não conseguiria se manter apenas com as vendas de livros, e começou a criar outras possibilidades. Hoje, a Casa Azul abriga oficinas, cursos, mostras, exposições, apresentações teatrais, saraus e, claro, lançamentos de livros. “Toda sexta-feira, coloco mesinhas na calçada, ponho cerveja pra gelar e fazemos recitais de poesia”, descreve Samarone.

O espaço vem sendo disputado por artistas e escritores: após a Casa Azul divulgar uma convocatória pelas redes sociais, 47 pessoas fizeram propostas de eventos para serem realizados lá, nos meses de junho e julho. Quinze foram selecionados e estão em curso, atendendo a vários públicos.

   Desapego

“Amo o que faço e faço uma boa curadoria do material que vendo. O mote da Casa é literatura, encontros e lentidão e é isso que as pessoas vêm buscar aqui. O engraçado é que no começo coloquei à venda muitos livros pessoais meus, e quando pegavam os volumes mais queridos, aqueles de que eu tinha mais ciúme, às vezes eu não conseguia vender. Foi quando uma amiga me disse, Samarone, você se decida se vai vender os livros ou não, porque já está ficando famoso em Olinda pelo fato de não querer se desfazer dos livros. Eu ri e pronto, depois disso, liberei o acervo, e estou muito feliz”.

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