O “não” de Petrônio Portela ao regime militar, em 31 de março de 1964

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Petrônio Portela morreu ainda novo, aos 54 anos

Sebastião Nery

Nos primeiros dias depois do golpe militar de 1964, os governadores de todos os Estados (exceto Miguel Arraes e Seixas Dória, de Pernambuco e Sergipe, logo presos), vieram ao Rio para o beija-mão ao general Costa e Silva, chefe do tal “Comando Supremo da Revolução”.

O encontro foi no Ministério da Guerra, no Rio. Magalhães Pinto, governador de Minas, ia apresentando um a um. Costa e Silva, de pé, cumprimentava, não dizia nada. Chegou a vez de Petrônio Portela:

– General, governador Petrônio Portela, do Piauí.

Costa e Silva, assustado, arregalou os olhos, fechou a cara:

– Mas o senhor aqui? O senhor não ficou contra nós?

– Eu me pronunciei pela legalidade, general.

E saiu. Ficou o constrangimento coletivo. Acabada a cerimônia, desceram todos. Lá embaixo, Petrônio chamou Magalhães:

– Estou liquidado. Ele vai me derrubar.

– Petrônio, para onde você vai?, perguntou Magalhães.

– Para a casa do José Cândido Ferraz (senador da UDN do Piauí).

– Telefono para você daqui a pouco.

Magalhães voltou ao gabinete de Costa e Silva:

– General, percebi que o senhor se surpreendeu com a presença do governador Petrônio Portela. De fato, no primeiro instante, ele ficou em dúvida, fez um pronunciamento pela legalidade. Mas é um companheiro nosso, da UDN, um homem correto, podemos confiar nele.

– Governador, é difícil para a minha gente aceitar isso. Ele vai ficar em observação e sob a sua responsabilidade. O senhor será o responsável.

– Obrigado, general. Pode estar tranquilo.

NÃO PERDOOU – Magalhães foi para a casa de José Cândido. Petrônio tomou alguns uísques e foi dormir salvo. Mas nunca perdoou Costa e Silva.

Anos depois Magalhães me contou essa historia. Mas, e o documento? Onde estaria a nota oficial de Petrônio? O escritor Zózimo Tavares, o mais brilhante jornalista no Piauí, publicou, pela editora do Senado, um livro-documento: “Petronio Portella”. Com seu texto limpo, exato, Zózimo abre vida e alma de Petrônio:

– “Na manhã de 31 de março de 64, as rádios anunciavam o início do movimento armado que sacudiria o país. No dia 1º de abril, Petrônio surpreendeu com a declaração de que iria publicar nota de apoio à legalidade constitucional. Resistia aos apelos de amigos, correligionários e familiares. Se tivesse seguido, poderia ter ficado na espreita, aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Mas ele relutava em adotar uma postura pusilânime diante de fatos políticos e institucionais tão graves. Tratou de se manifestar logo, comprometendo o próprio futuro e o da família. Sua formação jurídica e sua consciência falavam mais alto. Fez a nota oficial”.

DISSE PETRÔNIO – “No momento em que a Nação se encontra a braços com ameaças de sedição; no instante em que do Sul do País chegam notícias inquietantes, demonstrativas da possibilidade de vir o nosso país a ser engolfado pela subversão ameaçadora das instituições democráticas, cumpro o inarredável dever de levar ao conhecimento dos piauienses que o Governo do Piauí permanece hoje, como ontem, no firme propósito de defender, sem medir sacrifícios e indo às últimas consequências, a ordem democrática, os poderes constituídos, em suma o império da Constituição.

Confio em que o povo colaborará com o Poder Público na preservação da ordem constitucional” – (a) Governador Petrônio Portella.

Petrônio Portela era um profissional. E os profissionais sabem que o hoje já é o ontem. O que conta é o amanhã. Um oportunista? Não. Os oportunistas quebram as patas na primeira esquina.

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