Paulo Cannabrava filho*

1) Caíram as bolsas em todo o mundo, e aqui, uma das maiores quedas históricas. O dólar também se valorizou em relação com o euro e outras moedas;

2) O mercado imobiliários e o sistema financeiro que o alimenta, nos EUA enfraquecido, lembra a crise de 2008, que na verdade ainda não foi superada. Motivo de grande intranquilidade.

3) No Brasil, o dólar subiu de novo, fechando em R$ 3,7448. Para quem quer viajar, o dólar turismo está beirando os quatro reais (R$ 3,92). Isso apesar de o Banco Central ter anunciado estar disposto a ir às últimas consequências e já ter despejado alguns bilhões na praça. Foram US$ 5 bilhões em junho de 2016; no início de junho, Ilan Goldfajn, presidente do BC, anunciou que tinha US$ 20 bilhões à disposição para conter o dólar, e depois de já ter liberado outros US$ 5 bilhões, na semana seguinte liberou mais US$ 10 bilhões.

 Quais seriam as causas?

4) Os especialistas acionaram o botão de alarme diante da elevação da tensão na nova guerra (comercial, até quando?).

5) De fato, Trump anunciou que quer impor tarifas de 10% sobre 200 bilhões de importações da china. Com a prepotência que caracteriza o expansionismo estadunidense, diz que não admite reciprocidade, que se a China der resposta equivalente, será retaliada.

E veja que ele está seguindo à risca o anunciado. Esse anúncio já é uma retaliação, pelo fato de a China ter pago com a mesma moeda as imposições tarifárias anteriores. No dia 15, Trump anunciara impor 25% sobre US$ 50 bilhões, já uma retaliação pelo fato de a China ter respondido à primeira taxação de Trump, de 25% sobre US$ 50 bilhões.

Começou com Trump anunciando aplicar taxa de 25% ao aço e 10% ao alumínio importados. Já está valendo para Canadá e também para a União Europeia. O Brasil está fora por enquanto… Só que a Europa, como a China, disse que responderá a cada dólar que julgar prejudicial.

6) Ficou fácil para os “especialistas” acharem em que colocar a culpa pelo surto psicótico que aflige o mercado: a guerra comercial. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) se opôs às taxações de Trump argumentando que contrariam acordos firmados que considera como leis.

7) De fato, é uma situação muito delicada quando lembramos que as últimas guerras tiveram início como guerra comercial.

8) No Brasil, o PIB, depois de anos negativo, teve uma ligeira recuperação, porém foi negativo no primeiro trimestre, o que levou o governo a recalcular para este ano um PIB de 1,76, com uma projeção de 2,7% para 2019. Difícil chegar lá. Na atual conjuntura, o setor industrial não tem como investir, pois estão funcionando com 60% a 70% de capacidade ociosa. Culpa de quem? Da recessão?

9) Outra grande expectativa, nessa terça feira, foi em torno da reunião do Copon, para definir sobre a taxa Selic, que estava em 6,5%/a. A estimativa é que chegue a 8,5% até o final do ano. Isso se não repetirem a loucura da mais alta taxa do mundo, para tentar frear, ou atrair os dólares que estão voltando para o país de origem.

10) Uma das razões para a alta do dólar, dada pelos “especialistas”, é o fato de os Estados Unidos terem iniciado um processo de elevação da taxa de juros. Para os aplicadores (especuladores, na maioria), é melhor ganhar um pouco menos com segurança que ganhar mais num ambiente inseguro como o do Brasil atual. Daí a grande evasão de divisas.

11) Essa sangria é muito grave. O assanhamento dos especuladores, atiçado pela mídia, provocou uma saída de R$ 10,43 bilhões da bolsa, em dois meses, deixando um saldo negativo de R$ 6,06 bilhões. Para onde foram esses investidores?

12) Apesar de “não ter inflação”, ou tê-la controlada, os preços de quase tudo continuam subindo, nítido reflexo do aumento dos combustíveis.

13) A tarifa nacional de frete não se acerta, desde a paralisação dos caminhoneiros. É uma tarifa controlada pelo Estado. Por que será que os adoradores do mercado não liberaram também isso? Já é querer demais. Quem segura isso é a bancada do boi: parlamentares de quase todas as legendas proprietários de grandes extensões de terras.

14) Ainda no Brasil, de fevereiro de 2015 a maio de 2018, o preço da energia doméstica aumentou 33,4%, contra uma inflação de menos de 20% (19,6%). A previsão dos fornecedores é que vai subir mais. O pretexto é que os reservatórios estão esvaziando, tem que economizar água pra consumo humano. Em São Paulo, com o principal abastecimento de água mostrando gretas de terra seca, a água que já é cara, agora está outra vez racionada.

15) Enquanto isso, o Salário Mínimo, hoje de R$ 954,00, reajustado em relação com o ano anterior abaixo da inflação, deveria ser bem mais de R$ 1 mil, foi projetado para 2019 em R$ 998,00, não só abaixo da inflação como abaixo da dignidade humana. O governo ilegítimo justifica que isso custará R$ 13,4 bilhões e não tem dinheiro. Vale perguntar, quanto custam as mordomias dos três poderes da República? Só as mordomias?

 Agitação também na área política

16) O STF julga a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT e seu marido, ex-ministro Paulo Bernardo, por corrupção. Destaque para a defesa feita pelo senador Requião a sua colega e conterrânea:

E para piorar nossa situação, o líder da esquerda está preso.

17) Também causou arrepios ao deus mercado o fato de Ciro Gomes, num fórum sobre energia, ter anunciado que se ganhar a eleição para presidente, a gasolina no posto custará no máximo R$ 3,00. O preço tem que ser calculado em moeda nacional, em real, não acompanhar a especulação do dólar lá fora. Tem toda razão.

No mesmo fórum em que Ciro se manifestou, Jair Bolsonaro disse que a China está comprando o Brasil, que é preciso parar com isso, não permitir que se venda terras cultiváveis. Retaliará a China, se eleito, seguindo o exemplo e apoiando Trump?

Nesse mesmo fórum, o discurso que todos queriam ouvir, foi, não podia ser diferente, do banqueiro João Amoedo, candidato do Novo, partido que está crescendo assustadoramente.

18) Os jornalões do Brasil inteiro vêm insistindo que a tensão eleitoral provoca caos, incertezas. Veja bem, quase todas as manchetes diárias dizem que a eleição é a culpada pela instabilidade atual. O que poderão fazer para acalmar o mercado? Jogo muito perigoso… uma ameaça real ao processo democrático.

19) A insegurança provocada pela incerteza de poder garantir a continuidade da ilegitimidade, não só da origem desse governo, como principalmente, das medidas adotadas e a riqueza acumulada, pode levar essa gente a perpetrar uma aventura golpista. Exemplos na história do Brasil é que não faltam.

20) Diante desses fatos é que a Diálogos do Sulentende que a solução para o Brasil é uma refundação do Estado. Uma nova República, pois esta nascida com a Constituição de 1988, já não tem futuro. Só uma ruptura institucional poderá garantir o futuro. E romper logo, antes que os vende-pátria o façam. Repetimos, exemplos na nossa história é que não faltam.

*Jornalista editor de Diálogos do Sul