Imunoterapia livra mulher de câncer de mama metastático

Judy Perkins conseguiu ser totalmente livre da doença através do tratamento, que usa o sistema imunológico do paciente para destruir as células cancerosas

Imunoterapia livra mulher de câncer de mama metastático
O sucesso do tratamento foi publicado no jornal científico ‘Nature Medicine’ (Foto: Pixabay)

Uma mulher que lutava contra um câncer de mama metastático conseguiu ser livre da doença através da imunoterapia, um tratamento promissor que usa o poder do próprio sistema imunológico do paciente para destruir células cancerosas.

O sucesso do tratamento foi publicado no jornal científico Nature Medicine.  A notícia foi celebrada por pesquisadores da doença, já que é a primeira vez que uma pessoa que sofria com câncer de mama em estágio avançado atravessa um longo período em remissão.

A mulher se chama Judy Perkins, uma americana residente da Flórida que tinha 49 anos quando foi selecionada como voluntária para o tratamento. Na época, ela havia passado por inúmeras sessões de quimioterapia – todas falharam em impedir o avanço do tumor em seu seio direito, que acabou por se espalhar para o fígado e outras partes do organismo. Naquele período, médicos alertaram que ela tinha apenas mais três anos de vida.

Porém, os médicos que trataram de Perkins no Instituto Nacional do Câncer dos EUA, no estado de Maryland, afirmaram que a resposta da paciente à imunoterapia foi significativa. O tratamento varreu as células cancerosas de seu organismo de forma tão eficaz que atualmente ela está há dois anos em remissão.

“Minha condição se deteriorou muito próximo do fim, e eu tinha um tumor pressionando um nervo, o que significa que passava a maior parte do tempo tentando não me mover para evitar que a dor se alastrasse pelo meu braço. Eu havia desistido de lutar. Após o tratamento dissolver a maioria dos meus tumores, eu fui capaz de fazer uma caminhada de 60 quilômetros”, disse Perkins, segundo noticiou o jornal Guardian.

O tratamento por imunoterapia de Perkins se deu da seguinte maneira: primeiro, foram cortados pequenos pedaços dos tumores de Perkins para analisar o DNA em busca de mutações específicas para o tipo de tumor da paciente. O foco eram mutações que afetavam quatro genes que produziam uma série de proteínas anormais nos tumores.

Depois, dos pedaços de tumores retirados na biópsia, foram extraídos linfócitos infiltrados (conhecidos como “TILs”, na sigla em inglês). Estas são células do próprio sistema imunológico do paciente, usadas em tentativas de destruí-lo, mas que falharam por serem mais fracas que o tumor ou por estarem número pequeno para a tarefa.

Após cultivar bilhões dessas células imunes em laboratório, os pesquisadores realizaram nas mesmas uma triagem para identificar quais seriam mais eficazes em detectar e destruir as células cancerosas de Perkins, através do reconhecimento de suas proteínas anormais.

Depois, os pesquisadores injetaram no organismo de Perkins 80 bilhões das células imunes que foram cuidadosamente selecionadas. O tratamento foi feito em conjunto com o Pembrolizumab, um medicamento que auxilia o ataque do sistema imunológico às células cancerosas. Testes feitos após 42 semanas apontaram que Perkins estava totalmente livre do câncer, e permaneceu assim desde então.

“É como um milagre. Estou para além de impressionada pelo fato de estar há dois anos livre do câncer. Eu havia pedido demissão do emprego e me planejava para morrer. Tinha uma lista das coisas que precisava fazer antes do fim, como visitar o Grand Canyon. Agora, eu voltei à vida normal do dia a dia”, diz Perkins, segundo noticiou o jornal Guardian.

O tratamento foi considerado um sucesso extraordinário porque o câncer de mama, assim como o de próstata e ovário, tem poucas mutações, o que torna difícil para o sistema imunológico identificá-lo em meio aos tecidos saudáveis do organismo.

Simon Vincent, diretor de pesquisa da organização de caridade Breast Cancer Now, expressou otimismo em relação à notícia, mas destacou que é preciso ter cautela.

“Este é um resultado notável e extremamente promissor, mas precisamos ver esse efeito repetido em outros pacientes antes de dar esperança de uma nova imunoterapia para o câncer de mama metastático incurável. O câncer de mama metastático permanece incurável e, se quisermos finalmente impedir que as mulheres morram, precisamos urgentemente encontrar novas maneiras de direcionar e deter a propagação da doença. Estamos entusiasmados com essa descoberta precoce, mas devemos lembrar que esse tipo de imunoterapia continua sendo uma abordagem experimental que tem um longo caminho a percorrer antes de poder ser rotineiramente disponível para os pacientes”, disse Vincent.

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