Um PIB que cai

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Por Alvaro Gribel

O Banco Central conseguiu derrubar a escalada do dólar, mas o estrago provocado pelas incertezas e pela volatilidade das últimas semanas já está feito. Ontem mesmo, os dois maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú, revisaram os seus cenários e agora estimam menos crescimento, mais juros e mais inflação para este ano e o próximo. O governo Temer, ao se aproximar do final, reabriu a torneira dos gastos e dos subsídios e isso está ajudando a minar a recuperação.

A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio foi precisa, pelo uso dos swaps cambiais. O que não fazia sentido era a ideia de elevação dos juros, como chegou a circular no mercado na quinta-feira. Seria o tiro de misericórdia nas projeções de crescimento que já estão em queda. A economista Monica de Bolle, diretora do programa de Estudos Latino-Americanos e de Mercados Emergentes da SAIS/Johns Hopkins, em Washington, nos EUA, explica que os países que subiram a taxa nas últimas semanas, como Argentina, Índia e Turquia, têm problemas diferentes dos nossos. Aqui, a crise é fiscal, de desequilíbrio nas contas públicas. Lá, há dependência de dólares.

— O Brasil tem risco político, um governo frágil e que cede a pressões por mais gastos. Nos outros países, o problema é cambial. Argentina e Turquia têm déficit em conta-corrente que passa de 5% do PIB. Aqui, está em 0,4%. As empresas indianas têm dívidas elevadas em dólar. Subir juros só iria afetar o crescimento brasileiro, diminuir a arrecadação do governo e agravar o problema das contas públicas — explicou.

O Bradesco revisou o seu número para o PIB deste ano, de 2,5% para 1,5%, enquanto o Itaú cortou de 2% para 1,7%. O banco já chegou a prever 4%, no auge do otimismo com a nova equipe econômica do governo. O gráfico mostra a mediana das projeções do mercado financeiro para o PIB. O número já vinha caindo, semana a semana. Agora, 2% de alta já está sendo visto como um percentual difícil de ser atingido.

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Caminhões do BNDES

O presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, encomendou à área técnica do banco um estudo sobre o PSI e o frete dos caminhões. O programa de subsídios que vigorou nos governos Lula e Dilma vem sendo apontado por alguns economistas como uma das causas para a greve dos caminhoneiros. O BNDES se defende e diz que não houve crescimento explosivo da frota e que a recessão teve um efeito muito pior. O banco pode ter razão, mas isso não muda o enorme custo fiscal do incentivo, que ajudou a desequilibrar as contas públicas.

Voto de confiança

A linha de crédito de US$ 50 bilhões que o FMI concedeu à Argentina chamou a atenção da economista Monica de Bolle, que trabalhou no Fundo. Ela explica que o valor ficou bem acima das cotas pré-estabelecidas para países em risco. Ou seja, são um sinal de apoio ao governo Macri, que vinha sendo criticado pelo gradualismo do ajuste fiscal no país. “O montante mostra que a Argentina está muito bem posicionada com a comunidade internacional, sobretudo com os EUA, que já tinham criticado o FMI por conceder valores acima do limite estabelecido”.

Não engrenou

Os consultores Sérgio Nóia e Rogério Soares, da consultoria Enéas Pestana, especializada em varejo, enxergam um cenário de desânimo entre os consumidores brasileiros. O desemprego não caiu como esperado, as taxas de juros continuam altas e há a incerteza eleitoral. “Acho que não dá nem para dizer que este ano foi de recuperação, porque a base de comparação é muito baixa. O que está acontecendo é uma estagnação. Ainda não vemos mudança significativa de tendência no varejo”, avaliam.

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