Personagem da semana: Aécio desaba em queda livre

No banco dos réus, sem papagaios de pirata ou estafetas ao lado e com poucos correligionários, o tucano desaba em queda livre

Débora Bergamasco – ÉPOCA

Com os cabelos mais brancos, a fisionomia abatida e o corpo acima do peso num terno apertado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), de 58 anos, fez uma passagem-relâmpago pelo Senado no fim da tarde da terça-feira 17 de abril. Menos de uma hora antes, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão unânime, tornara-o réu em denúncia de corrupção passiva e obstrução da Justiça. É consequência da gravação de uma conversa, no hotel Unique em São Paulo, no dia 24 de março de 2017, em que ele pediu R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS.

Diferentemente de 2014, quando perdeu uma disputada eleição presidencial para Dilma Rousseff e arrastava atrás de si um séquito de políticos, Aécio desta vez andava sozinho, na presença de poucos auxiliares de sua equipe.

Ele deu uma passada rápida no plenário do Senado para manter conversas ao pé do ouvido com correligionários. E saiu pouco tempo depois, a fim de encarar — praticamente sozinho — a imprensa que o aguardava do lado de fora.

Os costumeiros papagaios de pirata do PSDB e de legendas aliadas, sempre a postos para fazer figuração em frente às câmeras na época em que ele pregava pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, desta vez bateram asas. Não quiseram associar suas imagens à do único senador tucano réu no Supremo.

Aécio não respondeu a perguntas dos jornalistas. Com olhos fixos à frente, foram cerca de três minutos de um pronunciamento entremeado com sorriso sem graça para declarar que já esperava por aquela decisão da Suprema Corte e que estava “sereno” para, finalmente, começar seu processo de defesa na Justiça. Aécio cogitou fazer um discurso na tribuna do Senado. Mas não se encorajou. “O plenário está vazio…”, disse ao justificar sua desistência em assumir a tribuna. E bateu em retirada para sua casa, uma mansão no bairro do Lago Sul, em Brasília, onde mora com a mulher e o casal de filhos gêmeos desde que a delação da JBS se tornou pública.

Deixar de viver no Rio de Janeiro, em seu apartamento na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, foi um dos primeiros movimentos do tucano para tentar restaurar os destroços nos quais sua vida pública se transformou.

A gravação de Joesley, seguida por uma operação da Polícia Federal que flagrou emissários do senador recebendo uma parcela de R$ 500 mil, em dinheiro vivo, foi o maior baque da carreira política de Aécio. Sepultou suas pretensões de continuar a ser protagonista na política nacional. Até então, Aécio ainda dava as cartas como presidente do PSDB e como interlocutor preferencial do presidente Michel Temer entre os tucanos desde o impeachment de Dilma. Mantinha-se influente, apesar de outras denúncias, como a construção com dinheiro público de um aeroporto para uso privado em terras de parentes, em Cláudio, no interior de Minas Gerais. Também foi delatado por executivos da Odebrecht que denunciaram cobrança de propinas na construção da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, e em obras do setor elétrico, além da emissão de notas frias de mais R$ 60 milhões repassados para sua campanha presidencial. Todas essas suspeitas geraram contra Aécio, além da ação penal em que ele se tornou réu, mais oito investigações que correm sob o comando do Supremo. Ele nega todas as acusações.

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