Por Pedro do Coutto
Ontem, ao ler os jornais, me deparei com três matérias importantes: a prioridade do general Braga Netto, a reportagem da Folha de São Paulo sobre as maiores empresas devedoras de tributos e a afirmação do presidente Michel Temer. publicada pelo Estado de São Paulo, de que está disposto a ir as urnas disputar a reeleição. Escolhi a que está no título. Deixo as outras duas para a edição de amanhã terça-feira.
Os jornalistas Ruy Castro, Folha de São Paulo, e Élio Gaspari, O Globo, edições de ontem, focalizaram com destaque o desafio colocado à frente do general Walter Braga Netto, interventor federal exatamente na segurança do Rio de Janeiro. O governador Luiz Fernando Pezão é um omisso. O prefeito Marcelo Crivella distancia-se das investigações, mesmo que pouco pudesse oferecer para as elucidações.
O VÉRTICE – Mas Pezão e Crivella são outros ângulos do problema. O vértice encontra-se à frente do General Braga Netto, inclusive porque, se não conseguir prender os assassinos da noite de quarta-feira, estará com sua tarefa sensivelmente prejudicada e sua imagem salvadora afetada.
Não faltam indícios. Há filmes sobre os carros que transportaram e deram cobertura aos assassinos, sinistros espectadores, portanto, do acionamento do gatilho mortal. Foram identificadas as origens das munições adaptadas a pistolas de uso exclusivo de forças de segurança nacional. Se essas armas e munições chegaram às mãos dos carrascos, tem que haver uma explicação clara e convincente. Explicação capaz de iluminar o roteiro que percorreram de 2006 até 15 de março de 2018. Indícios, portanto, que devem encontrar-se à disposição do interventor.
OS ASSASSINOS – Faltam, entretanto, informações sobre os vultos desumanos que praticaram a execução do crime planejado e bastante premeditado. Todos eles se transformaram nos arquitetos de duas mortes.
Marielle Franco estava marcada para morrer, o mesmo não se podendo afirmar quanto ao motorista Anderson Gomes. Ele parece ter sido vítima do acaso, já que não era o motorista que servia de modo efetivo à vereadora. Estava substituindo o titular, que, por motivo de saúde, não pôde naquela noite encontrar-se com as mãos ao volante.
Por um desses acasos do destino, nem o motorista do carro, nem a vereadora, tampouco a assessora a seu lado, perceberam que o automóvel estava sendo seguido no trajeto mortal a que se destinava.
INFORMANTES – Não vão faltar, como sempre, os informantes anônimos, personagens eternos das tramas policiais. É preciso, no entanto, que o general Braga Netto analise os informes para que não se deixe envolver em qualquer teia possível de sabotagem.
Se houve planejamento para a morte, não há de faltar planejamento também para a ocultação dos assassinos. A quem interessava o desaparecimento de Marielle? Esta é a pergunta clássica que consagrou ao longo da história a figura emblemática de Sherlock Holmes. Ponto de partida para o desvendamento dos crimes de sangue. Há de haver múltiplos interessados no desfecho do crime. Mas entre esses alguns terão mais motivos para explodir a lei do que outros. Uma questão de prioridades.
A LÓGICA – Não estou querendo com isso conduzir investigações, até porque não tenho conhecimento das sombras que repousam nas mentes e nas mãos de assassinos profissionais. Mas existe a lógica que funciona em todas as situações humanas. Saber usá-la como instrumento de descoberta é um dos caminhos mais claros e curtos para chegar aos assassinos.
Esse desafio foi colocado à frente da mesa de trabalho do general Braga Netto. Deus o ajude na tarefa de dissolver as sombras e apresentar os criminosos e mandantes de uma violência trágica a mais na ampla história do crime no Rio de Janeiro.