O poeta Antonio Cícero toma posse na Academia Brasileira de Letras

IRMÃO DA CANTORA MARINA LIMA, ANTÔNIO CÍCERO TEM POSSE PRESTIGIADA NA ABL

Antônio Cicero nasceu no Rio de Janeiro em 1945 e formou-se em filosofia na Universidade de Londres. Poeta, letrista e professor de filosofia, é autor dos livros de ensaios: “O mundo desde o fim” (1995), “Finalidades sem fim” (2005), “Poesia e Filosofia (2012) e “A poesia e a crítica” (2017). Os livros de poemas são: “Guardar” (1996, Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira); “A cidade e os livros (2002) e “Porventura” (Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras).

Antonio Cícero toma posse hoje na ABL
Antonio Cícero toma posse hoje na ABL

Em “Poesia e filosofia”, ele afirma que “a despeito de tanto o filósofo como o poeta terem as cabeças nas nuvens, não são idênticas suas nuvens. Os assuntos dos poetas não são tão genéricos e abstratos quanto os dos filósofos. Ao contrário, parecem ser bastante concretos. O poeta fala, por exemplo, da manhã, da morte, do nascimento, do azul, dos sapatos, das ruas, dos gestos…”.

Se a filosofia historicamente tem sempre que criar um sistema novo, o mesmo não acontece com a poesia, pois um poeta da atualidade pode se referir a temas que já foram objeto de poemas no passado e, mesmo assim, criar uma imagem inusitada.  O que importa é como usa palavra.  Quem  não ama as palavras, comenta Antonio Cicero, dificilmente será poeta.  O importante, afirma, não é fazer o novo, mas sim o que não envelhece. Ou seja, “o fato é que os poemas pretendem ficar vivos, mesmo quando já morreram o seu autor e o país em que ele viveu, e mesmo quando deixou de ser falada (embora continue a ser lida) a língua em que foram feitos”.

Por isso é que para Antônio Cícero filosofia é documento e poesia, monumento. Como disse José Guilherme Merquior, discutindo conceitos empregados por Michel Foucault, “os documentos são transmissores de referência externa; os monumentos são contemplados por si próprios”. Ao que Cícero acrescenta: “Pode-se dizer que, em suma, enquanto de maneira geral, o poema seja contemplado por si próprio, funciona como um monumento; um texto filosófico, sendo lido em vista da tese que afirma, funciona como um documento”.

Um monumento que precisa ser criado com vagar e fruído também vagorosamente para ser entendido em sua totalidade. Para a poesia não existe “tempo é dinheiro”. E exatamente neste nosso tempo de aceleração desembestada das atividades, que ela, na opinião de Antonio Cícero, se faz mais desejável. Por quê? “Por que o que me parece inteiramente indesejável é a aceitação passiva da inevitabilidade do encolhimento de nosso tempo livre”, diz o culto e sensível poeta.

Com a leitura dos versos, “conseguimos romper a cadeia utilitária cotidiana, concedendo ao poema a concentração por ele solicitada. Configura-se então um tempo que já não se encontra determinado pelo princípio do desempenho. Afinal, a rigor, o poema não serve para nada. Ou bem a leitura de um poema recompensa a si própria, isto é, vale por sim, ou bem ela não vale absolutamente nada”. Com certeza, hoje os anjos lá no céu estarão felizes por mais um poeta entrar para a Casa de Machado. Poetas são imprescindíveis.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *