As implicações de crer no inferno

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    A religião em nossos dias pode ser, em alguns casos, entendida como um terrorismo psicológico cujas ideologias se tornaram compatíveis com a agenda capitalista: a satanização do prazer, a culpa da diversão (e seu oposto: a compulsão de gozar desmedidamente através da utopia consumista), e o lazer equiparado com a vadiagem conformam populações obedientes que preferem trabalhar duro para evitar os terrores do inferno, ainda que para muitos seu lugar de trabalho apresente condições comparáveis ao mundo inferior.

Os psicólogos Azim F. Shariff e Lara B. Aknin realizaram um estudo, publicado na revista PlosOne sob o título “The Emotional Toll of Hell: Cross-National and Experimental Evidence for the Negative Well-Being Effects of Hell Beliefs”, no qual pediram a 400 voluntários que escrevessem algo sobre o Céu, o Inferno ou sobre o que fizeram no dia anterior. Os que escreveram sobre o Inferno tendiam a mostrar maior negatividade emocional comparado com outros grupos (para surpresa de ninguém).

O interessante é que esta tendência é tão patente em crentes quanto em não crentes: pensar no Inferno torna a pessoa miserável e suspicaz, inclusive apesar de que saibam que não é real. Ironicamente, o verdadeiro inferno manifesta-se com toda sua força nos crentes: a crença subjetiva em uma “malevolência sobrenatural” que dita seus destinos foi associado no estudo com a baixa auto-estima, pouca resistência às doenças e dificuldade para aceitar as mudanças. Crer no inferno, de fato, é um fator de prevenção do crime. O problema chega quando pensar que viver é um crime.

O aspecto econômico da fé não escapou nem sequer da cobiça dos imperadores romanos: “dar a outra face” significava também ganhar guerras sem necessidade de utilizar exércitos. A evangelização tornou-se uma conquista ideológica que segue operando em nossa programação inconsciente. De fato, Azim e Aknin referem-se a outro estudo realizado em países em desenvolvimento, que demonstra que a crença em massa no Inferno produz populações melhor coordenadas e obedientes.

A sociedade não poderia funcionar sem certo tipo de leis que mantivessem a ordem; mas se essas leis conformam uma chantagem emocional onde as opções são 1) obedecer ou 2) sofrer castigos sem questionar, não seria tempo de começar a nos preocupar menos pelo que ocorre após a morte e dar um pouco mais de atenção no que ocorre ao nosso redor, todos os dias? Exorcizar crenças limitantes e dolorosas é uma operação de reprogramação que cada um deveria realizar sobre si mesmo.

Fonte: Reddit.

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