Troca de mensagens mostra que Joesley tentou segundo encontro com Temer

 

Empresário conversou com Rocha Loures para tentar nova reunião e utilizou aplicativo que apaga mensagens depois de lidas. Joesley diz ainda que negociou propina com ministro por celular.

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Por Vladimir Netto

Uma troca de mensagens entre o empresário Joesley Batista e o ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures mostra que o dono da JBS tentou marcar um segundo encontro com o presidente Michel Temer.

As mensagens foram divulgadas nesta quinta-feira (1º) pelo site “O Antagonista” e confirmadas pela TV Globo.

Para se comunicar via mensagem com Rocha Loures, o empresário utilizou um aplicativo considerado um dos mais seguros para trocar mensagens secretas pela internet.

Para ler o conteúdo, é preciso passar o dedo na tela. As linhas do texto aparecem uma de cada vez e, depois que as mensagens são lidas, o aplicativo apaga o texto. Se a tela do celular for capturada pelo destinatário, o remetente é avisado.

Por isso, para utilizar a troca de mensagens como prova, Joesley Batista utilizou um segundo aparelho de celular para filmar e tirar fotos das telas durante a conversa que teve com Rocha Loures.

A conversa mostra que, depois do encontro no Palácio do Jaburu, em 7 de março, Batista buscou o ex-assessor especial da Presidência para se encontrar novamente com Temer.

No segundo encontro, o empresário queria discutir com o presidente a Operação Carne Fraca, que investigou casos de corrupção e de adulteração de produtos e foi deflagrada em 17 de março.

No texto, Joesley Batista pergunta a Rocha Loures se consegue um encontro em Brasília com o chefe “amanhã à noite”. Ele fala ainda que a operação ameaça destruir as exportações de carne em um único dia.

Rocha Loures pergunta se o encontro seria mesmo na segunda-feira. Joesley, então, responde que sim: segunda ou terça.

De acordo com o “Antagonista”, Joesley e Rocha Loures trocaram mais algumas mensagens sobre este encontro. O ex-assessor da Presidência disse que Temer estaria em São Paulo para um evento, mas que a agenda estava lotada.

Joesley questiona se era melhor ligar ou deixar que o chefe ligasse, numa referência a Temer. Rocha Loures sugere que o empresário mesmo telefone para o presidente e passa o celular do ajudante de ordem de Temer.

O Palácio do Planalto afirmou que o presidente Michel Temer defendeu todo o setor agropecuário brasileiro, que tem contribuído para recuperação da economia e para o crescimento do PIB, independentemente das empresas que atuem no setor. E que o fez sem atender aos pedidos de Joesley Batista./

A TV Globo não conseguiu contato com a defesa de Rocha Loures.

Na delação, Joesley Batista contou que também conversou com Rocha Loures sobre uma disputa que a JBS tinha com a Petrobras sobre o preço do gás fornecido para uma termelétrica do grupo.

De acordo com a delação, os R$ 500 mil que Rocha Loures recebeu em uma mala, em São Paulo, seriam uma das parcelas do pagamento de propina por causa desse assunto.

Em uma das trocas de mensagem, Joesley reclama que o preço da energia subiu. E avisa Rocha Loures: “estamos parando a térmica hoje.!!”. Em seguida, Loures afirma: “ver o que pode fazer”.

Os dois também trocavam mensagens sobre reuniões no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que analisava um pedido da empresa de Joesley para condenar a Petrobras por conduta anticompetitiva.

Em uma das mensagens, Joesley comemora: “primeira missão concluída hoje com sucesso. vamos falar da próxima?

O Cade declarou que todos os atos processuais foram conduzidos pela área técnica, sem favorecimento e que a ausência de qualquer parecer ou decisão do órgão a favor da usina térmica da JBS deixa claro que eventuais planos de terceiros para influenciar decisões não tiveram resultado.

O empresário também entregou aos procuradores mensagens de outros aplicativos, como o Whatsapp. Segundo ele, houve acerto de propina de R$ 6 milhões para o pastor Marcos Pereira, do PRB. Pereira já estava no cargo de ministro da Indústria e Comércio Exterior do governo Temer.

Segundo o dono da JBS, Marcos Pereira pegou R$ 700 mil num encontro na casa do empresário. Na conversa, eles falam de combinar “um vinho” o que, segundo Joesley, era a senha para propina.

“Tô te vendo aqui na televisão! No Jornal Nacional. vamos combinar um vinho?”, pergunta Batista.

“Vamos. quando queres…”, responde Pereira. “Amanhã te mando opções de data”, disse o empresário na sequência.

“Ok. no aguardo. boa noite!”, finaliza o ministro.

A entrega do dinheiro ocorreu, segundo Joesley, no dia 24 de março.

A assessoria do ministro Marcos Pereira afirmou que as acusações não são verdadeiras. Disse também que os prints vazados foram feitos de forma seletiva e não correspondem ao contexto real dos fatos. A assessoria disse ainda que o ministro continua à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários.

As informações das mensagens de Joesley Batista estão sendo analisadas pelos investigadores e podem ser incluídas na denúncia que o Ministério Público Federal deve fazer sobre o caso.

Para os investigadores, essas mensagens são mais um sinal da variedade e sofisticação das provas apresentadas na delação da empresa.

Além dessas mensagens e das gravações feitas por Joesley, a JBS também entregou extratos bancários, comprovantes de depósitos, a movimentação de contas no exterior desde a data da abertura, documentos internos da empresa e imagens de circuito interno mostrando a entrada de investigados e a entrega da propina.

Além disso, os executivos da empresa também aceitaram participar de ações controladas,concordaram com o grampo nos próprios telefones e até arrumaram o dinheiro que foi entregue em malas como pagamentos de propina.

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