Salve Maurílio!

comentarista    Por José Adalberto Ribeiro

Há quanto tempo, Maurílio Ferreira Lima! Guardo boa memória dele, na política, no jornalismo e na amizade pessoal. Em boas palavras, era um homem de bem. Desde que saí do Diário, perdi o contato pessoal com ele, e sempre mantive a estima. Soube que estava doente, com problema de mobilidade física. Ironia, do destino, logo ele, o intrépido Maurílio, semi-imobilizado numa cadeira de rodas! São as armadilhas da vida.

Pense num cara irrequieto, Maurílio Ferreira Lima! Lutador dos bons combates, também adorava os holofotes, seja dito, mas sua integridade estava acima das vaidades e das ilusões do ego.

Maurílio tinha a fascinação do poder, não a ambição do vil metal. Sonhava e vivia o exercício da política e também viajava nas manchetes dos jornais e nas ondas eletromagnéticas do rádio.

O cara era meio arengueiro. Idos de 1960-1962, aquele rapazote de 18 a 20 anos topou a parada de encarar o Coronel Chico Heráclio nos feudos de Limoeiro. O Coronel deu-lhe uns cascudos, mas ele não correu da parada. E lá vai ele atuar como oficial de Gabinete do prefeito Miguel Arraes nos tempos brabos início da década de 1960.

Em 1968 havia uma fogueira danada em Brasília e Maurílio era deputado federal. Os radicais da direita e os chamados subversivos da esquerda mediam forças. Eram as fogueiras da radicalização ideológica. Nas cavernas das noites os dromedários da direita tramaram um plano terrorista chamado de Pára-Sar. Seriam atentados com explosivos para causar mortes e danos em pontos estratégicos no Rio de Janeiro e que seriam atribuídos aos grupos de esquerda para estimular a repressão de direita.

As paredes das esquerdas ouviram os segredos do plano terrorista e se prepararam para denuncia-lo. Seria uma denúncia coletiva. Mas, antes disso a língua de Maurílio começou a coçar a ele botou a boca no trombone. O plano terrorista foi abortado, mas alguns caras da esquerda também ficaram irados com Maurílio por ter dado revelado sozinho o furo jornalístico.

Quando deputado montou um estúdio radiofônico em casa. Falava para dezenas de emissoras e centenas de milhares de ouvintes em todo o Estado. Uma vez ele disse, meio de brincadeira e meio na vera, que queria ser mais popular que a Coca-Cola em Pernambuco.

Também tinha seu lado farrista, nas noites brasilienses e nas noites recifenses. Mas não pegava pesado nas biritas. Frequentador do restaurante Dom Pedro, a casa de Dom Júlio Crucho, criatura da nossa estima e carinho, na Rua do Imperador, reduto de jornalistas e políticos, uma bela noite Maurílio adentrou no recinto depois de marcar boa presença numa cena política em Brasília, Maurílio foi aplaudido pelas nossas patotas do Diário e do JC.

São tantas histórias e até um lendário em torno de Maurílio e suas camisas de cores psicodélicas!

Ele me contou que numa votação importante em Brasília foi abordado por um lobista, e o bicho fez a proposta indecorosa no pé do ouvido: “Deputado, uma mão lava a outra …”. Maurílio mandou o lobista pra casa do baralho.

Maurílio era um animal político e também um animal midiático. Pero, sem perder integridade e a honradez, jamais.

Se eu encontrasse com ele hoje eu diria: baixinho, tu és um cara rochedo. Salve Maurílio!

Um comentário sobre “Salve Maurílio!

  1. Linda homenagem…como eu não acredito em mortes, pode ter certeza que seu amigo, hoje residindo num Universo Paralelo, acolheu sua revisita a muitas e prazeirosas lembranças.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *