Há um ano votação do Impeachment de Dilma na Câmara tinha confete, cuspe e menções a Deus
Folha de S.Paulo – Anna Virgínia Balloussier
“Que Deus tenha misericórdia desta nação. Voto sim”, disse o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em 17 de abril de 2016. Há um ano, a Câmara dos Deputados autorizava a abertura do processo de impeachment contra a primeira mulher a presidir o Brasil.
Dilma Rousseff começava a cair, e, um ano depois, a Casa também. Ao menos parte dela. Dos 39 deputados investigados no Supremo Tribunal Federal, por suspeitas de caixa dois e corrupção que vieram à tona com as delações da Odebrecht, 21 votaram pela queda da petista, 13 contra, dois se abstiveram e três eram suplentes à época.
Há um ano, o plenário ficou coberto de cartazes verde-amarelos com “tchau, querida!”, bordão que oposicionistas adotaram a partir da despedida do ex-presidente Lula num telefonema com Dilma divulgado pelo juiz Sergio Moro. Deputados citaram 65 vezes a palavra “corrupção”, cinco a mais do que “Deus”.
Muitos dos que a evocaram estão hoje enroscados Lava Jato. A começar por Cunha: por meses, o então líder da Câmara aproveitou seu poder de pôr o impeachment em votação para fazer “chantagem explícita”, como Dilma diria depois.
O impeachment? Acabou em pizza. Era esse o prato principal na casa do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), apelidado de “Boca Mole” na planilha do departamento de propinas da Odebrecht
RESSACA
Se Brasília estava em festa, a ressaca viria nos meses seguintes. Houve deputado literalmente jogando confete para celebrar a debacle de Dilma. Com uma bandeira do Pará feita de capa, Wladimir Costa disse que o PT dava um “tiro de morte” no coração do povo brasileiro e disparou um rojão com papel picado no plenário antes de votar “sim”.
Três meses depois, o Tribunal Eleitoral Regional do Pará cassou seu mandato, por acreditar que ele recebeu dinheiro de “fontes não declaradas” para a campanha. Wladimir nega e se mantém no cargo até decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Não é o único que roubou a cena no impeachment e depois se envolveu em escândalos próprios. Bruno Araújo (PSDB-PE) não tinha expressão nacional até dar o 342º dos 367 “sim” contra Dilma, voto definitivo para a aprovação do impeachment na Casa.
Após 5h20 de sessão, Lacrimejando, exaltou a “honra [que] o destino” lhe reservou. Virou ministro das Cidades e, agora, um dos oito titulares da Esplanada de Temer sob escrutínio no Supremo –delatores disseram que a Odebrecht teria repassado R$ 600 mil a “Jujuba”, codinome de Araújo, que defendeu interesses da empreiteira na Câmara.
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