Ex-presidente do TCE exigiu propina pelo Maracanã enquanto assinava cartões de Natal

O Globo – Coluna de Lauro Jardim
Por Bruno Góes

Em dezembro de 2014, no momento em que a operação Lava-Jato já estava a todo vapor, o ex-presidente do TCE do Rio Jonas Lopes teve um encontro com o executivo (e hoje delator) da Odebrecht Leandro Azevedo.

A reunião, marcada pelo conselheiro em seu gabinete do TCE, tinha como único propósito discutir o pagamento da segunda parte da propina acertada pela liberação do edital de licitação do Maracanã.

Em março de 2014, Leandro já tinha pagado R$ 1 milhão aos conselheiros. Em dezembro, no entanto, não queria mais fazer nenhum pagamento ilícito, pois temia o avanço das investigações.

Em delação, o executivo conta o momento constrangedor, no qual o presidente do TCE pede propina enquanto assina cartões de Natal:

— Ele me recebeu na mesa de trabalho dele. Me perguntou se eu me importava de sentar, porque ele estava assinado cartões de Natal. E nessa ocasião ele me cobrou a continuidade do pagamento. Eu fiquei sem graça porque a gente estava no meio da Lava-Jato. Tinha acabado de acontecer a prisão, se não me engano, do presidente da OAS. Foi em dezembro, tinham acabado de acontecer as delações. Tinha O Globo em cima da mesa (de Jonas Lopes). Eu, delicadamente, disse que ia ao toalete e falei: “O senhor, por favor, olha a capa do Globo”. Ele ficou super sem graça. Pediu desculpas. Disse que sabia a situação que a gente estava vivendo.(E respondeu:) “Mas é que eu estou sendo muito pressionado pelos outros conselheiros”.