O anel que tu me deste

Cabral e sua mulher Adriana Ancelmo já com o anel em jantar no restaurante ‘Luís XV’, em Mônaco (Foto: Reprodução/Blog do Garotinho)

A ciranda da corrupção colocou ex-intocáveis na roda. Vão todos cirandar na Lava Jato

ÉPOCA – Ruth de Aquino

Era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou. A ciranda cirandinha da corrupção no Brasil colocou ex-intocáveis na roda. Vão todos cirandar na Lava Jato. Nas rodas multimilionárias, que envolvem empreiteiros e governadores, o anel não é de vidro, mas de ouro branco e diamantes. Custou R$ 800 mil, foi dado pelo dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, à mulher do ex-governador Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, como presente de aniversário, em 2009, no restaurante Le Louis XV, sob comando do estrelado chef Alain Ducasse, no Principado de Mônaco.

Parece história da carochinha, mas não é. O roteiro era censurado a nós. A promiscuidade político-empresarial ronda a pornografia. O Brasil de Cabral é redescoberto pelo juiz Sergio Moro. É salutar, é um curso de ética ministrado a fórceps. A prisão do poderoso Eduardo Cunha, cercado por lenhadores e ninjas tatuados da Polícia Federal, está inserida nessa ciranda. Por enquanto, os presos esperam dar apenas a meia-volta. Mas volta e meia vamos dar. É preciso crer no cancioneiro popular.

A história do anel, embora centrada no Rio de Janeiro, está carregada de simbolismo nacional e federal – é a joia da coroa num país onde a troca de favores envolve bilhões e macula a reputação de presidentes da República. Pensar em presentes pessoais de quase R$ 1 milhão, no estado mais falido hoje da Federação, é algo surreal. Em reportagem exclusiva do jornal O Globo, fomos informados do singelo anel de € 220 mil (equivalentes a cerca de R$ 800 mil) que Cavendish deu à então primeira-dama do estado do Rio, formada em Direito, advogada atuante.

No dia 18 de julho de 2009, Cabral levou Cavendish a uma joalheria de Monte Carlo, em Mônaco, a Van Cleef & Arpels, na Place du Casino, para pegar o presente de Adriana, que já estaria reservado. A conta teria apanhado o empresário de surpresa. Adriana colocou o anel na mão esquerda em seu jantar de aniversário, num restaurante que é uma pequena réplica do Palácio de Versalhes.

A foto com o anel foi entregue por Cavendish aos investigadores da Lava Jato como um mimo da delação premiada. Para provar que comprou a joia, o empreiteiro passou a nota fiscal e o comprovante de seu cartão de crédito. Cabral confirmou o presente, mas negou ter achacado o amigo e disse ignorar o valor do “cadeau”. Devolveu o anel a Cavendish quando os dois romperam a amizade em 2012. O motivo alegado da briga? Na Operação Monte Carlo, descobriu-se que o dono da Delta usava as empresas do bicheiro Carlinhos Cachoeira para lavar dinheiro. Quem devolveu o anel a Cavendish foi um amigo e assessor de Cabral, Paulo Fernando Magalhães Pinto. Curiosamente, está no nome do mesmo Paulo Fernando o luxuoso Ford Ranger que Cavendish disse ter dado a Cabral de presente.

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