FLÁVIO CHAVES E O SEU LIVRO ROSTO NO ESCURO

O meu livro ROSTO NO ESCURO – Romance – que tem o prefácio escrito por Andrea Campos, terá a sua nova edição produzida em São Paulo, com lançamentos previstos para o  primeiro semestre de 2017 , na Europa.

TRECHO DO PREFÁCIO  –  Andrea Campos

FIAT   LUX    E   OS   ROSTOS    SE   ACENDEM…

Prefácio de Andrea Almeida Campos

Dos traços do rosto amado delineia-se o próprio rosto. “O outro é um sintoma nosso”, afirmava Lacan. Aquele que elegemos para amar reflete os nossos desejos mais recônditos, nossos anseios, nossas angústias e nossas perversões. Diga-me quem amas e te direi quem és. Em “Rosto no Escuro”, visceral, renovador e poético romance, Flávio Chaves mergulha nos meandros e nos sortilégios que anunciam o desejo e desembocam no amor. Os rostos são os de Baltazar e Yasmim, mas trazem a mesma seiva dos de Werther e Charlotte do romance de Goethe. Seria uma reatualização do belo e definitivo romance do bardo alemão? Teria Chaves pensado ou se inspirado nele ao sangrar de si as suas palavras? Não. Estamos certos disso. O que ocorre é que a tessitura de “Rosto no Escuro” é costurada sobre um sentimento universal, sobre um enredo inafastável da experiência das paixões humanas que perpassa toda a História, ao menos, a ocidental. Aquele enredo no qual o amante garimpa no rosto amado um espelho que revele a sua própria identidade, resquícios do que ele foi, do que ele perdeu e do que ele poderia ser. O rosto de Yasmim mobiliza, denuncia e corrompe Baltazar. Brinca com a sua memória, faz-lhe festa e faz-lhe amor, mas o nocauteia em um espaço da palavra onde Baltazar jaz irresgatável. Ela lhe aparece como um raio de sol, uma mancha azul sempre fugidia e sedutora que clama por captura em um momento de sua vida no qual “os dias eram outros, alguns tão tristes e doídos que era como se eu tivesse me perdido da vida”. Yasmim torna a ser a promessa de um reencontro, não apenas com a vida que parece perdida, mas consigo mesmo. Baltazar é um personagem de raízes telúricas, com um passado lúdico, alegre e, por vezes melancólico, de coração encravado nas vísceras da terra. Sua história é marcada por um balé cuja coreografia é permeada de profundas ausências (a do pai) e de fortes presenças (a da mãe) que se trançam e se alternam. Yasmim se integra perfeitamente à sua narrativa, a começar pelo seu nome, nome de flor jasmim, da cor de sua infância de matriz de terra vermelha. Assim como nas brincadeiras de esconde-esconde ou na marcante dor provocada pela morte do pai, ela se mostra e desaparece, desaparece e se mostra colocando-se como sempre inalcançável e, portanto, inauguradora do desejo. Afinal, existe desejo sem falta? Os silêncios entre o casal se sucedem como vazios que se enchem de reticências e de partículas condicionais, são nadas que se inundam de promessas acompanhadas por um Baltazar insone que atravessa de olhos abertos as noites que parecem nunca mais voltarem a ser amanhecidas enquanto esse amor não se mostrar realizável.
No início do Romance, o personagem Baltazar mostra a sua determinação pela persecução do desejo amoroso. Rememora as palavras acauteladoras do grande escritor Ledo Ivo ao aconselhar que se deve amar várias mulheres e, apenas, uma cidade. Essa passagem nos faz lembrar os oráculos e a propensão humana à transgressão. Baltazar transgride e transgride com ardor e vontade, pois pressente que quando se ama, com exclusividade, uma mulher, é porque se encontrou todas as amadas em uma só. Não há nada a temer e há tudo – pelo que vale à pena – a lutar. Encontrar a mulher amada não se lhe afigura como a perdição de si, mas como o encontro total consigo mesmo. E, ainda que anunciando no título de seu primeiro capítulo que “quando o amor parece ser desmedido por ser tão puro, os deuses se irritam…”, ele faz a escolha de não se acovardar diante de um destino desafiador e imperscrutável, mas faz a escolha de ser o herói de uma história mitológica por ele mesmo criada. Baltazar contraria os desígnios divinos. Qual será sua chaga? Será a mesma de Werther de Goethe? Ou os sentimentos humanos são os mesmos, mas os tempos são outros? Quais metáforas do amor a contemporaneidade comporta? Qual a metáfora do Romance de Flávio Chaves?

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