“Olinda merece um novo olhar”, diz Antônio Campos

Da Folha de Pernambuco

Pré-candidato à Prefeitura de Olinda, o advogado e escritor Antônio Campos (PSB) tem consciência dos desafios que terá pela frente. Seja para consolidar sua candidatura no município, sem que com isso melindre a aliança histórica entre seu partido e o PCdoB; seja pelas dificuldades em superar as necessidades básicas da cidade, que sofre com problemas estruturais nas áreas de saúde, educação e infraestrutura viária, em especial na estrangulada Avenida Kennedy.

Para solucionar os problemas pontuais, Campos lançou o movimento Muda Olinda, que vem fazendo consultas à população, debatendo soluções, colhendo demandas e garimpando experiências bem-sucedidas de outras gestões. Confira abaixo.

Uma das suas principais adversárias, a deputada federal Luciana Santos (PC do B) foi uma das maiores defensoras do Governo Dilma. Como o debate nacional entrará na discussão das eleições de Olinda?

Atuei fortemente na segunda eleição de Dilma para evitar a sua vitória. Ajudando Eduardo, apoiando Marina Silva na primeira hora e o opositor de Dilma no segundo turno, pois já via em Dilma um projeto inviável para o Brasil. Desde o primeiro momento me posicionei favorável ao impeachment e da adoção de uma agenda mínima para o Brasil sair do impasse em que se encontra. Lamentavelmente, o PC do B preferiu a defesa intransigente de um governo fracassado do PT, que enganou a nação brasileira com falsas promessas eleitorais.

No Brasil inteiro, e, também em Olinda, é claro, a população paga um preço caro e por isso tem uma inflação alta, aumentos das tarifas de energia e dos combustíveis, desemprego e deterioração dos serviços públicos de saúde e educação. Pesquisa realizada em Olinda revela que 83% da população sente a atual crise econômica atingindo diretamente suas famílias. Isso sem falar na grave crise da gestão municipal, reprovada por 81% da população olindense, segundo pesquisa publicada pela Folha de Pernambuco. Olinda sente, duplamente, a crise e saberá identificar os responsáveis por esses desmandos.

O PCdoB integra a Frente Popular e ocupa espaços estratégicos como a vice do prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB). Como fazer para a disputa em Olinda não desgastar a relação entre os partidos? Há esta preocupação?

Sim. A compreensão que tenho é que as gestões do Recife e Pernambuco têm a hegemonia do PSB. O inverso ocorre em Olinda onde a hegemonia é do PC do B há quase 16 anos. O modelo de gestão de Olinda se exauriu e precisa de uma oxigenação urgente. Além do mais, desde 2013 que o PSB se afastou, com a candidatura a presidente de Eduardo Campos, do modelo de gestão nacional do PT ao qual o PC do B permanece atrelado. Olinda e o Brasil vivem um momento de mudança. Vamos construir este momento com muito diálogo, firmeza e propostas claras.

Nos bastidores, começa a ganhar força a especulação de que o PMDB poderia ficar com a sua vice. Como estão as conversas em torno da formação da sua chapa?

Tenho o maior respeito pelo deputado Ricardo Costa com quem converso dentro de um ambiente de busca de convergências no campo da oposição no município. Conversei com o deputado federal Jarbas Vasconcelos e o vice-governador Raul Henry a quem considero duas figuras importantes do PMDB nos planos estadual e nacional. Com certeza, temos muitas afinidades nesse momento político do país e de Olinda. Contudo, não existe, ainda, definição nesse sentido.

Qual será a principal bandeira da sua pré-campanha pela Prefeitura de Olinda. O senhor já iniciou a construção de seu programa de governo?

Precisamos reacender a esperança nos olindenses. A cidade vive um momento de estima baixa e descrença na atividade política. Tenho percepções sobre os desafios e prioridades. No entanto, com humildade, defendo, na condição de pré-candidato a prefeito, um diálogo aberto com a cidade. Para tanto, propusemos a criação do Movimento Muda Olinda que já percorreu os bairros de Ilha de Santana, Rio Doce, Ouro Preto, Peixinhos, Casa Caiada, entre outros, e ainda temos muito caminho pela frente.

O Movimento Muda Olinda tem a missão de mobilizar a sociedade civil olindense na solução de seus problemas. Os desafios são tão graves que ultrapassam os estreitos limites das siglas partidárias. Chegou a hora de trazer o protagonismo para a sociedade. Todas as pesquisas apontam para um enorme descrédito da atividade política tradicional. No entanto, só existe saída através da mobilização política.

Vamos garimpar experiências bem-sucedidas para alavancar a economia criativa, o comércio, o turismo, gerar empregos, além do fortalecimento das nossas manifestações culturais e preservação do patrimônio histórico. A cidade clama por um novo jeito de fazer política e um novo modelo de gestão, que cuide efetivamente da cidade. Olinda merece um novo olhar.

O senhor não acha que os desafios são maiores que os meios para enfrentá-los?

Política é missão. Tenho consciência plena dos desafios que temos na área da educação e cultura, atração de investimentos, fortalecimento da economia e digital, preservação do sítio histórico e da orla e dos mercados e feiras. Usaremos um novo modelo de gestão, que traga o olindense para cuidar de sua cidade, seremos agressivos na busca de investimentos privados e vamos dar um novo rumo a Olinda.

Tenho repetido nas reuniões nos bairros que Olinda é uma Cidade de Fé. E que seu povo é solidário. Para isso convocaremos a participação dos católicos, evangélicos e religiosos de todas as crenças. Onde existir um templo realizando trabalho social, iremos oferecer nossa parceria. Não fecharemos um templo sequer em Olinda. Ao contrário, queremos estar lá dentro, trabalhando junto.

O povo olindense terá, no Movimento Muda Olinda, a oportunidade de constituir um fórum de discussão e realizar uma grande mobilização em defesa da cidade. Não existe saída, fora da política. Em tempos de crise, é preciso, mais do que nunca, termos esperança. Olinda encontra-se uma cidade escura e abandonada. Vamos acender Olinda.

Qual a saída para a crise política e econômica que o país enfrenta hoje?

É urgente para o Brasil a construção de uma agenda mínima pós-impeachment. Precisamos unir a nação em torno de um programa mínimo. Temos pontos centrais: a preservação dos programas sociais de redistribuição de renda; reforma política; a continuação do combate à corrupção, o equilíbrio das contas públicas e o combate à inflação; retomada do desenvolvimento econômico e geração de empregos através de investimentos públicos e privados.

Entendo a gestão Temer como um governo de coalisão. E todos que defenderam o impeachment deveriam apoiar e mesmo participar. É a opção que temos para reverter a situação de paralisia, por um ano e quatro meses, a que fomos submetidos pelo fracasso do segundo governo de Dilma. Temer é uma esperança para o futuro e, certamente, deverá gerar uma nova confiança na economia, que está em grave recessão.

Qual a falta que lideranças como os ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos fazem neste cenário de crise de representatividade?

O Brasil vive um deserto de líderes. Esse é um dos mais graves problemas do Brasil, atualmente. A sociedade brasileira tem que reagir a falsos líderes, como Jair Bolsonaro, que num episódio recente fez apologia ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do Doi-CODI na época da Ditadura Militar. O advogado Durval Noronha, que tem uma parceria estratégica para o Nordeste com a Campos Advogados, protocolou, recentemente, representação contra Bolsonaro perante o Tribunal Penal Internacional, em Haia, pois tal postura configura crime contra a humanidade. Está começando uma campanha para colher 1 milhão de assinaturas e entregar ao Tribunal Internacional. Sou um dos signatários desse abaixo-assinado, que está disponível na internet. Não podemos conviver com crimes como a tortura.

Aprendi com Miguel Arraes a resistir em tempos difíceis. Acho que as forças ligadas ao PT e ao PC do B foram derrotadas pelo povo brasileiro. Vivemos um novo momento. E é nessas horas de crise que aparecem novos líderes e novas soluções.

De Eduardo recebemos a mensagem: “Não vamos desistir do Brasil”. De Miguel Arraes aprendemos o ensinamento que quando a crise for grande, vá para junto do povo que ele ensinará a encontrar o caminho. Arraes foi um homem além do seu tempo e o seu pensamento continua atual e nos instigando. Arraes foi pioneiro na adoção de programas sociais reconhecidos internacionalmente e sempre voltados para os que mais precisam, tendo inspirado vários outros projetos sociais.

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