O que é que essa lista tem? Tem

Do jornal O Valor

Os investigadores da Polícia Federal e a própria Odebrecht, se de fato estiver disposta a colaborar – como declararam a empresa e a Controladoria-Geral da União, embora o Ministério Público Federal negue a iniciativa – terão condições melhores de esclarecer o que há nas listas de políticos e valores encontrados em domicílio de ex-executivo da empreiteira, além de outras informações suspeitas.

Mas passado o furacão do dia da revelação dos nomes, cabe uma análise sobre o conteúdo divulgado.

Afinal, o que é que essa lista tem?

– Tem doações legais registradas no TSE em nome do candidato ou de seu comitê de campanha específico, no caso de eleições majoritárias? Tem.

– Tem doações legais que aos olhos do doador tem um destinatário final, mas que na prestação de contas aparece como repasse ao partido, diretório ou comitê de campanha? Tem.

– Tem doações – não fica claro se legais ou ilegais – fora de época, ou seja, anos antes da eleição propriamente dita? Tem.

– Tem doações – não fica claro se legais ou ilegais – com indicativo de que qual político (normalmente um líder partidário ou “parceiro histórico”, para usar a linguagem da Odebrecht) seria o responsável por distribuir a verba entre seus aliados? Tem.

– Tem doações ilegais que nunca foram registradas na prestação de contas dos políticos? Tudo indica que tem.

Há também doações registradas como legais, mas em nome de duas empresas Leyroz e Praiamar, que não pertencem ao grupo Odebrecht, conforme indicou reportagem do Valor de hoje. Elas são revendedoras de bebidas do grupo Petrópolis, que nega ter relação societária com elas.

Não é novidade que grandes grupos empresariais usem razões sociais bem menos conhecidas do público para “camuflar” o volume total doado em campanhas políticas. Mas essas outras empresas são controladas das holdings “famosas”, digamos assim.

O próprio grupo Odebrecht usou pelo menos 15 CNPJs diferentes nas últimas campanhas para fazer doações.

Mas não há explicação até agora de por que um executivo da Odebrecht teria uma planilha com informações tão detalhadas sobre doações feitas oficialmente por terceiros. Além de dados que poderiam ser obtidos no site do TSE (como data, valor da doação e destinatário formal), a planilha indica ainda quem pediu a contribuição, o apelido dado pela Odebrecht ao político, os dados bancários de depósito e o beneficiário final, nos casos em que os repasses foram feitos a partidos e comitês de campanha.

Chama a atenção também a existência de duas colunas com números relativos ao valor doado na planilha. A primeira tem o título “valor” e a segunda é chamada de “pagamento”. Essa coluna pagamento tem cifras que coincidem com os registros no TSE. E é um montante financeiro sempre 20% inferior ao que aparece na coluna “valor”. Ou seja, R$ 100 mil de valor, R$ 80 mil de pagamento, sendo que R$ 80 mil é o número que consta como doado pela empresa na mesma data na prestação oficial de contas.

O dinheiro era da empreiteira ou das outras empresas? E onde foram parar os 20%?

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