O lucro dos políticos

ÁLCOOL E PEROBA

jose-nivaldoPor José Nivaldo Junior, publicitário e membro  da Academia Pernambucana de Letras

Todos temos os nossos segredos. Seu José Teixeira, um sábio formado na universidade da vida, costumava dizer quando alguém se apresentava como bastião da moral e dos bons costumes: “Pega ele depois de um bom banho, passa um algodão com álcool no braço e vê se não sai sujeira”.

O falso moralista é uma figura abominável. E o desfecho desses cruzados de conveniência é, geralmente, a sua desmoralização, flagrado praticando o que combatia.

A preservação de certos segredos constitui garantia inalienável da pessoa. Todos têm direito à sua intimidade.

Essa regra, no entanto, obedece a limites, como tudo o que diz respeito à vida social. Não se aplica, por exemplo, à prática de fatos delituosos. Ao ingressar no mundo do crime, abre-se mão da individualidade.

O mesmo raciocínio se aplica a quem ingressa na vida pública. Atividade que, falaria Almirante, discípulo caboclo do Conselheiro Acácio, o nome já diz, é pública.

Ninguém é obrigado a optar por ela. Mas ao fazê-lo, abre mão do direito de reclamar de qualquer invasão ou bisbilhotice a respeito de suas atividades profissionais.

Agamenon Magalhães, salvo engano, dizia que o homem público não pode comprar nem vender. Quem quiser enriquecer, direito legítimo, deve procurar o mundo empresarial, a atividade liberal, o empreendedorismo.

A constatação óbvia é de que, no Brasil, usar a política para fazer ou facilitar negócios, lícitos ou escusos, deixou de constituir exceção.

E chega a ser patético certas personalidades políticas ficarem reclamando porque suas contas e outras particularidades financeiras são apresentadas à sociedade, ou seja, a quem os paga.

Segredos? Todos têm. Os decorrentes da vida pública simplesmente não deveriam existir.
Transparência na política implica em estar sempre pronto para esclarecer qualquer detalhe da sua atuação.

Segredos? Só os de ordem estritamente pessoais. Ou de articulações legítimas, enquanto estão em curso, pois, concluídas, passam para o domínio da História.

Para abolir os segredos indesejáveis, um bom começo seria voltar a Agamenon: fica vedado a quem exerce a vida pública, comprar, vender e lucrar.

O único lucro legítimo do político é o bem comum e o reconhecimento social.

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