Lugar de homem? Os desafios quando as mulheres chegam aos bastidores da música

   por Bruno Nogueira

O lugar da mulher na música sempre foi delimitado de uma forma caricata. Expressões como “banda de mulheres” mostram um desconforto de um universo excessivamente masculino. Com exceção da diva, em contraponto ao crooner, todas as vezes em que as mulheres ocupam um novo espaço, este passa a ser acompanhado por uma demarcação de gênero. Por mais que ninguém fale “banda de homens”, a heteronormatividade dita a regra. Encontrar espaços ocupados por lésbicas, gays e trans é ainda mais difícil, mesmo fazendo parte do campo da arte uma certa expectativa de tolerância.

Um dos principais filtros da cultura contemporânea, os prêmios, reforçam esse contexto. Até hoje apenas três mulheres receberam um grammy por produção musical. A estimativa otimista atual é que cerca de 5% dos espaços de engenharia e técnica de som, no mundo inteiro, sejam ocupados por mulheres. Isso gera uma evidente controvérsia no mercado da música que também se reflete no Brasil: o crescimento de cantoras e mulheres como figuras centrais no centro do palco não acompanha um crescimento por trás dos palcos. Isso não significa que existam poucas mulheres trabalhando no mercado de música. A estatística sobe quando partimos para áreas de produção executiva, sendo difícil encontrar um artista – independente de gênero musical – de grande, média e pequeno porte hoje, no país, que não tenha uma mulher à frente de sua equipe de produção. O mesmo serve para os eventos. “É engraçado porque a equipe que trabalha na área ‘externa’ do festival é toda formada por mulheres e gays enquanto na parte ‘interna’ por homens”, conta Ana Garcia, à frente do festival No Ar Coquetel Molotov. Ela lembra que em 11 anos de evento nunca teve mais que duas mulheres trabalhando em iluminação de artistas ou na função deroadie. Nas primeiras edições ainda precisou passar por situações onde empresários de artistas ou patrocinadores não a encaravam como representante do evento. “Eles me viam e achavam que estava em outra função, pedindo pra falar com o ‘dono’ do festival”, lembra. Situações que a paraibana Carolina Morena, hoje com base em Salvador, enfrenta com certa frequência.

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