As aves que aqui gorjeiam

Carlos Brickmann

O brasileiro é um povo cordial, ensinava em Raízes do Brasil o grande Sérgio Buarque de Holanda. Cordial e tolerante: a briga horrorosa que agora divide a família real espanhola jamais ocorreria neste país tropical, bonito por Natureza.

Pois não é que o rei espanhol Felipe 6º acaba de cassar o título de Duquesa de Palma de Mallorca de sua irmã, a infanta Cristina? Punida pelo próprio irmão! Motivo: o marido de Cristina, Iñaki Urdangarin, antigo ídolo popular, foi acusado de fraudes fiscais. Cristina, veja só!, disse que não sabia de nada. Esta defesa, lá considerada ridícula, levou o rei a romper com a irmã e a tirar-lhe o título.

Povo feroz, este de Espanha. No Brasil, embora a lei determine que pessoas condenadas pela Justiça percam as condecorações que receberam, somos mais cordatos, somos um povo cordial: os ex-deputados José Genoíno, Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e João Paulo Cunha, todos condenados no processo do Mensalão, todos enviados à prisão, continuam homenageados pela Medalha do Pacificador (referência ao Duque de Caxias), conferida pelo Exército.

O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu mantém a Ordem do Mérito Aeronáutico. Genoíno também recebeu a Medalha do Mérito Aeronáutico, quando já era processado pelo Mensalão; e, mesmo tendo cumprido pena, ainda pode usá-la no peito. E João Vaccari, o tesoureiro do PT preso em abril pela Polícia Federal, na Operação Lava-Jato, foi aplaudido de pé no congresso de seu partido.

Nosso povo é tolerante. Mas nosso país não deve ser uma casa de tolerância.

 

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