Congresso do PT: A hora de o PT enfrentar a si mesmo

VAMOS VER SE CONSEGUE

Em encontro que começa nesta quinta, tenta evitar críticas ao governo e agradar militância

Dilma Rousseff na cúpula EU-Celac, que integra países da União Europeia, da América Latina e do Caribe, em Bruxelas, na Bélgica, nesta quinta-feira (11)

 

Se dependesse de alguns integrantes, o 5º Congresso do PT que começa nesta quinta-feira (11), em um hotel em Salvador (BA), nem aconteceria. A ocasião é ruim. O PT é acusado de ser o principal artífice e beneficiário do esquema que desviou bilhões de reais da Petrobras para bolsos alheios pela via da propina. Seu ex-tesoureiro está na cadeia… O PT governa o Brasil em meio a um das maiores crises financeiras da história recente e teve de bancar um doloroso corte de gastos públicos, algo contrário a tudo que defende e acredita. A ocasião, como se vê, é propícia a divisões, bate-bocas e arranca-rabos, todo tipo de ocorrência capaz de enfraquecer ainda mais o partido em sua pior crise existencial. Tudo isso só não vai ocorrer porque a corrente Partido que Muda o Brasil (PMB), que detém 53% dos 800 votos no congresso do partido, deve proteger o governo Dilma de ataques das outras alas petistas.

 

O PT é formado por diversas correntes internas, que se enfrentam com tanta disposição quanto enfrentam o PSDB ou outros partidos adversários. Depois da PMB a mais forte é a corrente Mensagem, cujos principais representantes são o ex-governador gaúcho Tarso Genro e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A Mensagem gostaria de incluir no documento final do encontro críticas ao ajuste fiscal tocado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a aliança política com o PMDB. Entretanto, a PMB deve evitar que essas iniciativas prosperem. A PMB faz isso por sobrevivência, mas a contragosto. Todos os petistas têm ojeriza ao ajuste. Deputados e senadores insistem na necessidade de o governo terminar logo o ajuste e “retomar a agenda do crescimento” – na prática, reabrir os cofres públicos para gastos. É uma atitude de desespero, pelo medo dos resultados na eleição municipal do ano que vem. A realidade, no entanto, conspira contra. Não há perspectivas de o Brasil voltar a crescer este ano, e provavelmente nem no ano que vem. Se a responsabilidade prevalecer, o governo deverá manter o caixa fechado por mais tempo do que os petistas gostariam. Para ajudar na defesa do governo, a PMB pressionou e conseguiu fazer com que a presidente Dilma Rousseff fosse ao encontro. Resistente à ideia, Dilma cedeu e antecipou sua volta da Bélgica para participar da cerimônia de abertura do encontro nesta quinta à noite.

 

O PT deve apresentar no congresso um documento que esboça uma volta às origens como a saída possível para a sobrevivência no cenário desfavorável. Proporá a formação de uma frente com partidos de esquerda e movimentos sociais, para disputar a eleição de 2018. Diante da dificuldade de emplacar a criação de um imposto sobre grandes fortunas – que defendia na década de 90, mas esqueceu desde que chegou ao poder, em 2003 – o PT deve defender a ressurreição da CPMF, o imposto sobre movimentações financeiras. São duas maneiras de evitar que, após perder parte do apoio da classe média, o PT perca também mais um quinhão da sua base social histórica. É o possível e o necessário para o momento.

Fonte: Por Leandro Loyola, revista Época com foto de AP Photo/Francois Walschaerts

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