Mulher foi presa após levar um cadáver em uma cadeira de rodas para uma tentativa de empréstimo de R$ 17 mil
Caso ganhou repercussão nacional nessa terça-feira (16). (Reprodução)
Na tarde de ontem, terça-feira (16), uma mulher foi conduzida para a delegacia após levar um cadáver em uma cadeira de rodas para uma tentativa de empréstimo de R$ 17 mil em uma agência bancária de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O homem foi identificado como Paulo Roberto Braga, de 68 anos e estava morto havia algumas horas.
Devido a aparência pálida do homem e a falta de sinais vitais, os funcionários do banco suspeitaram da atitude de Erika de Souza Vieira Nunes e chamaram a polícia. Na delegacia, ela disse que sua rotina era cuidar do tio, que estava debilitado. Uma investigação foi aberta e a polícia apura se ela é mesmo parente dele – há a suspeita de que seja prima.
Um vídeo, feito pelas atendentes do banco, mostra que a todo tempo ela tentava manter a cabeça do homem reta, usando a mão. “Tio, tá ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, o que eu posso fazer eu faço”, afirma a mulher.
Ela mostra o documento e afirma que ele tinha que assinar da forma que estava ali e diz: “O senhor segura a cadeira forte para caramba aí. Ele não segurou a porta ali agora?”, indaga. “Assina para não me dar mais dor de cabeça, eu não aguento mais”, completa. Nesse momento, as funcionárias tentam intervir e dizem que ele não parecia estar bem. “Ele não diz nada, ele é assim mesmo. Tio, você quer ir para o UPA de novo?”, questiona ela.
Empréstimo estava pré-aprovado
Segundo apuração da TV Globo, o valor do empréstimo já estava pré-aprovado. Ainda nesta noite, por volta de 19h, a mulher ainda prestava depoimento na delegacia. A polícia apura se ela cometeu furto mediante fraude ou estelionato. A instituição quer entender se outras pessoas a ajudaram a cometer os crimes e busca imagens de segurança. O corpo do idoso foi levado para o Instituto Médico Legal e será submetido a perícia.
Essa mulher que levou o idoso MORTO pra fazer um empréstimo, é o puro suco do Rio. pic.twitter.com/VoUKNYDuGR
Atenção: esta reportagem tem descrições de violência que alguns leitores podem achar perturbadores.
O escritor Salman Rushdie deu detalhes à BBC sobre o atentado que sofreu há dois anos, quando foi esfaqueado no palco onde daria uma palestra em Nova York, nos EUA.
O autor vencedor do Booker Prize contou que seu olho ficou pendurado no rosto “como um ovo cozido” — e que perder o olho “o entristece diariamente”.
“Lembro de pensar que estava morrendo”, diz ele. “Felizmente, eu estava errado.”
Salman afirma que está usando seu novo livro, Faca – Reflexões sobre um atentado, como uma forma de lutar contra o que aconteceu.
O ataque ocorreu em uma instituição de ensino no estado de Nova York, em agosto de 2022, enquanto ele se preparava para dar uma palestra.
O escritor lembra como o agressor “subiu as escadas correndo” — e o esfaqueou 12 vezes, inclusive no pescoço e no abdômen, em um ataque que durou 27 segundos.
“Eu não poderia ter lutado com ele”, afirmou. “Eu não poderia ter fugido dele.”
Salman conta que caiu no chão, onde ficou com “uma quantidade espetacular de sangue” em volta dele.
Ele foi levado de helicóptero para um hospital e passou seis semanas lá se recuperando.
O autor anglo-americano nascido na Índia, de 76 anos, é um dos escritores mais influentes dos tempos modernos. O ataque foi manchete de jornais no mundo todo.
Salman viveu vários anos escondido depois que a publicação do livro OsVersos Satânicos, em 1988, desencadeou uma série de ameaças de morte contra ele.
Ele admite que já havia pensado que alguém poderia “saltar da plateia” um dia.
“Claramente teria sido absurdo que isso não passasse pela minha cabeça.”
‘Triste diariamente’
O ataque provocou lesões no fígado e nas mãos de Salman — e cortou os nervos do seu olho direito.
Seu olho parecia “muito dilatado, inchado”, diz ele.
“Estava meio que pendurado no meu rosto, na minha bochecha, como um ovo cozido. E cego.”
Salman afirma que perder um olho o “entristece diariamente”. Ele percebe que precisa ter mais cuidado ao descer escadas, atravessar uma rua ou até mesmo colocar água em um copo.
Mas ele se considera uma pessoa de sorte por não ter tido lesões cerebrais.
“Isso significava que eu ainda era capaz de ser eu mesmo.”
O moderador do evento em que Salman foi esfaqueado disse à BBC que gostaria de poder ter feito mais para impedir o ataque.
“Você sente que, se tivesse agido mais rápido, grande parte disso poderia ter sido evitado”, declarou Henry Reese.
Mas a gratidão de Salman às pessoas que o ajudaram naquele dia, incluindo Reese, assim como aos médicos que cuidaram dele, fica clara desde a primeira página de Faca – Reflexões sobre um atentado.
O livro é dedicado, simplesmente, aos “homens e mulheres que salvaram a minha vida”.
‘Isso é um motivo para matar?’
Episódios
Pela primeira vez, Salman revela o que gostaria de dizer ao suspeito de ter cometido o ataque.
Hadi Matar, um morador de Nova Jersey de 26 anos, foi acusado de esfaquear o escritor. Ele se declara inocente e está detido sem direito a fiança.
Em entrevista concedida ao jornal New York Post da prisão, Matar disse que tinha visto vídeos de Salman no YouTube.
“Não gosto de pessoas dissimuladas assim”, afirmou Matar.
Em Faca – Reflexões sobre um atentado, Salman tem uma conversa imaginária com seu suposto agressor, na qual ele responde a isso.
“Nos Estados Unidos, muitas pessoas fingem ser honestas, mas usam máscaras e mentem. E isso seria motivo para matar todas elas?”, ele questiona.
Salman nunca se encontrou com Matar após o ataque. Mas é provável que ele fique cara a cara com ele no tribunal quando o julgamento começar.
Inicialmente, a seleção do júri começaria em 8 de janeiro. Mas o julgamento foi adiado depois que os advogados do réu argumentaram que tinham o direito de analisar o livro de Salman, uma vez que poderia ser usado como evidência. A expectativa agora é de que o julgamento ocorra no segundo semestre.
Por que o livro ‘Os Versos Satânicos’ é tão controverso?
Salman Rushdie ficou famoso após a publicação de Os filhos da Meia Noite, em 1981, que vendeu mais de um milhão de cópias somente no Reino Unido.
Mas seu quarto livro, Os Versos Satânicos, que retrata o profeta islâmico Maomé e suas referências à religião, foram considerados uma blasfêmia — e proibidos em vários países de maioria muçulmana.
O então líder do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, emitiu uma fatwa (decreto religioso) em 1989, pedindo o assassinato de Rushdie e oferecendo uma recompensa de US$ 3 milhões pela cabeça do autor. Essa fatwa nunca foi rescindida.
Como resultado, Rushdie foi forçado a se esconder por quase uma década — e precisou de um guarda-costas armado devido ao número de ameaças de morte que recebeu.
Salman, filho de muçulmanos não praticantes, é ateu — e há muito tempo um eloquente defensor da liberdade de expressão.
Mas ele acredita que a situação está “muito mais difícil” agora.
“Muitas pessoas, incluindo muitos jovens, lamento dizer, formaram a opinião de que as restrições à liberdade de expressão são muitas vezes uma boa ideia”, afirma.
“Ao passo que, naturalmente, o objetivo da liberdade de expressão é que você tem que permitir discursos com os quais você não concorda.”
Salman lembra que, quando estava deitado em uma poça de sangue, se viu “pensando estupidamente” sobre seus pertences pessoais.
Ele estava preocupado que seu terno Ralph Lauren poderia estragar, e que as chaves de casa e seus cartões de crédito poderiam cair do seu bolso.
“Na hora, é claro, é ridículo. Mas, olhando para trás, o que isso me diz é que havia uma parte de mim que não pretendia morrer. Havia uma parte de mim que dizia: ‘Vou precisar das chaves de casa, vou precisar dos cartões de crédito’.”
Segundo ele, era um “instinto de sobrevivência” que dizia: “Você vai viver. Viva. Viva”.
Um ano antes do atentado, Salman havia se casado com sua quinta esposa, a poetisa e romancista americana Rachel Eliza Griffiths.
Ela disse à BBC que quando soube do ataque, “começou a gritar”.
“Foi o pior dia da minha vida”, acrescentou.
A escritora contou que estava ao lado de Salman enquanto os médicos costuravam suas pálpebras.
“Eu amo os olhos dele, ele saiu de casa com dois (olhos), e nosso mundo mudou”, disse ela. “E agora eu amo ainda mais seu único olho por causa de como ele vê o mundo.”
Salman descreveu Faca – Reflexões sobre um atentado como “no mínimo, tanto uma história de amor”, quanto uma história de terror.
“Há duas forças em colisão aqui. Uma é a força da violência, do fanatismo, da intolerância, e a outra é a força do amor”, explicou.
“E, claro, a força do amor está personificada na figura da minha mulher, Eliza.”
“E no final, a forma como entendo o que aconteceu é que a força do amor provou ser mais forte do que as forças do ódio.”
Salman afirma que vai participar de eventos públicos novamente, mas vai ser “mais cuidadoso” no futuro.
“A questão da segurança será a primeira questão. A menos que eu esteja satisfeito em relação a isso, não vou fazer.”
Mas acrescenta que é “uma pessoa bastante obstinada”.
“Não quero uma vida restrita ou confinada”, diz. “Vou ter minha vida.”
Há quase 30 anos, guardo em casa uma lista de obras clássicas que Gabriel García Márquez me fez, de próprio punho, numa tarde de abril de 1995.
A história de como consegui essa lista foi contada inúmeras vezes à minha família e amigos. É uma anedota que revela tanto a minha total ignorância quanto o carisma, a generosidade e a humildade do único escritor colombiano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura.
Começa com uma pergunta, termina com a lista e inclui um delicioso sorvete.
O sorvete
“Maldito Cachaco, está claro em seus olhos que você adoraria tomar mais uma bola de sorvete, mas não consegue admitir”, desafiou-me Gabriel García Márquez com um misto de carinho e brincadeira.
E ele estava certo. Não só era delicioso, mas também, como ele me disse, era o sorvete que recebia de Fidel Castro todos os anos como presente de aniversário. Veio da famosa sorveteria Coppelia de Havana, que era a preferida do romancista que – para minha descrença – era meu anfitrião.
A primeira colher me foi oferecida alguns minutos antes, depois que ele abriu cerimoniosamente o freezer. Eu estava fazendo contas mentais: a grande caixa branca estava armazenada há mais de um mês. O aniversário de García Márquez foi no dia 6 de março e aquela tarde foi em 8 de abril.
Eu ainda não conseguia acreditar na minha sorte. Eu estava almoçando com um dos homens que mais admirava e sua esposa, Mercedes Barcha, na cozinha do apartamento em que moravam em Cartagena, num prédio que as pessoas chamavam de “A Máquina de Escrever”.
E ele, sendo um bom contador de histórias, não só compartilhou o que considerava o melhor sorvete do mundo, mas também os detalhes da relação que mantinha com Fidel.
Obviamente, também achei que era o melhor sorvete do mundo. Lembro-me de ser sabor baunilha, excepcionalmente cremoso, e eu estava morrendo de vontade de continuar comendo todas as colheres que ele me oferecia.
Mas fui criado como um “cachaco”, que é como as pessoas da costa caribenha chamam os nascidos em Bogotá. E nós, “cachacos”, somos ensinados a não revelar muito os nossos gostos, a não dizer tudo o que pensamos, e que uma bola de sorvete é suficiente. Finalmente, cedi.
Até hoje lembro como um dos meus almoços preferidos, para o qual estranhamente fui convidado devido à minha relutância em apreciar a literatura clássica.
A pergunta
Tudo começou algumas semanas antes, quando meu chefe e primeiro mentor jornalístico, Mauricio Vargas Linares, me disse que eu representaria a revista Semana no primeiro workshop da Fundação Gabo, então chamada Fundação para um Novo Jornalismo Ibero-americano, ou FNPI. Tinha sido fundada por García Márquez alguns meses antes, com o objetivo de melhorar a formação de jornalistas de língua espanhola.
Eu tinha visto García Márquez uma vez, quando ele visitou a revista. Nunca havíamos nos falado, mas ele sempre foi particularmente carinhoso com aqueles de nós que estávamos apenas começando a entender a profissão de jornalista.
Jamais esquecerei quando, durante um dos fartos almoços organizados ocasionalmente pelo dono da revista, chegou García Márquez. Apesar de ter um lugar reservado para ele na mesa principal com ministros e celebridades, percebeu que havia espaço na mesa mais distante, aquela ocupada pelos membros mais jovens da equipe editorial, e disse, apontando em nossa direção: “obrigado, mas vou sentar lá com os repórteres.”
O workshop da FNPI seria sobre crônicas jornalísticas, e a professora seria a jornalista mexicana Alma Guillermoprieto.
Eu tinha acabado de completar 23 anos e tentava aprender tudo o que podia com o seleto grupo de jornalistas experientes que produziam a influente revista semanal onde eu trabalhava. Eu não falava inglês e não tinha ideia do que era a revista The New Yorker, muito menos quem era Guillermoprieto.
Também nunca tinha ouvido falar do Diário do Ano da Peste, de Daniel Defoe, o livro que tínhamos que ler antes de ir para Cartagena.
Trata-se de um relato romanceado da peste que devastou Londres e seus arredores entre 1664 e 1666, que, como descobri mais tarde, García Márquez considerava um dos maiores relatos da história.
Durante aquela semana de workshop, Alma Guillermoprieto me ensinou que não é preciso ser pretensioso para ser profissional, que rigor é inegociável e que a melhor forma de tratar de questões importantes é através de histórias específicas, como ela tinha feito nas 13 cartas da América Latina originalmente publicadas em inglês na The New Yorker e compiladas no livro At the foot at the volcano I write (Ao pé do vulcão eu escrevo), que tinha acabado de ser traduzido para o espanhol.
García Márquez tinha plena consciência da admiração e da adulação que despertava nos dez jovens jornalistas selecionados para o workshop, mas fez o possível para baixar a temperatura emocional e a formalidade das sessões.
Ele nos tratou como se nos conhecesse desde sempre, e não creio que seja exagero dizer que um observador desavisado poderia facilmente dizer que ele era o mais entusiasmado de todos.
Para comemorar o fim do workshop, ele nos convidou para jantar na sexta-feira no La Vitrola, naquela época o restaurante onde a grande boemia cartagena se reunia, cenário de noites e conversas lendárias entre ele e artistas como Alejandro Obregón e Enrique Grau, apenas para citar alguns.
Passei boa parte da noite pensando qual seria o momento ideal para confessar a García Márquez que achava a literatura clássica terrivelmente chata e, por mais que tentasse me aprofundar nela, ela produzia em mim um tédio espantoso. Queria perguntar a ele se eu realmente precisava ler todos os clássicos para melhorar minhas habilidades jornalísticas.
Mas como diabos eu poderia admitir para ele minha simplicidade intelectual?
Enquanto lutava mentalmente contra minhas inseguranças, em meio ao barulho de pratos, copos e música ensurdecedora, ele pareceu se despedir de todos os alunos.
“Professor, mais uma coisa”, eu disse ansiosamente enquanto me levantava da cadeira e tentava ir em direção a ele.
Ele ergueu as sobrancelhas e senti que ele me deu permissão para continuar.
“Eu queria perguntar a você sobre literatura clássica e o que devo fazer para conseguir lê-la.”
“Quanto tempo você vai ficar em Cartagena?”, ele perguntou.
“Decidi ficar e curtir o fim de semana”, eu disse.
“Muito bem, me ligue amanhã.”
“Mas eu não tenho seu número de telefone…”
“650143”, ele ditou…
Numa das muitas coisas idiotas que fiz quando jovem, decidi tentar memorizar o número sem anotá-lo.
“O que há de errado com você, repórter?”, ele disse com um sorriso enquanto me oferecia sua caneta. “Anote em um pedaço de papel, ou você esquecerá e se arrependerá pelo resto da vida.”
A lista
Naquela noite dormi pouco. A cada 20 minutos, eu verificava se já era um horário civilizado para ligar. Quando o relógio finalmente deu nove da manhã, ousei discar os números anotados.
“Merce, temos planos para o almoço?” — perguntou o escritor à esposa, interrompendo brevemente nossa conversa.
“Tudo bem, então direi a Alvarez para vir”, acrescentou.
Assim que aceitei sua oferta, liguei ansiosamente para meu chefe.
“O que devo fazer? O que devo levar? Como devo me vestir?”
“Não seja idiota, nada do que você trouxer ou fizer irá impressioná-lo. Não pense nisso, vá e seja você mesmo, não finja ser outra pessoa e aproveite o almoço”, ele sabiamente me aconselhou.
Decidi vestir minha camiseta e jeans de sempre e esperei ansiosamente pelo meio-dia para me dirigir ao encontro em seu apartamento.
Comemos peixe frito, banana frita e arroz de coco no almoço e, depois do sorvete, finalmente me atrevi a falar.
“Professor, devo confessar que fico terrivelmente entediado com os clássicos e não consegui ler nenhum deles.”
Ele me contou que quando jovem também via os clássicos com desdém, até que uma vez ouviu de um mentor que ele nunca se tornaria um grande escritor se não conhecesse os clássicos gregos.
E me disse que, quando os descobriu, se apaixonou por eles. Ele falou de sua obsessão por Édipo e de como sempre foi seduzido pela história de um homem que queria investigar quem havia matado seu pai, apenas para concluir tragicamente que o próprio era o assassino.
Pediu que eu fizesse um esforço para superar o tédio que a língua antiga gerava em mim e me concentrar nas histórias fabulosas que contavam.
“E se você tivesse que fazer uma lista dos clássicos essenciais, quais estariam incluídos?”, perguntei.
“Vamos fazer a lista”, disse ele entusiasmado enquanto abria rapidamente seu caderno de repórter e começava a escrever a lista que ilustra esta história e que transcrevo abaixo como ele a escreveu (traduzida para o português):
1. A Bíblia
2. Mil e Uma Noites
2a Platão e Aristóteles
3. A Odisseia
3a Os Filósofos Ilustres. Diógenes Laércio
4. Sófocles: Édipo
5. Os Doze Césares (Suetônio)
6. Plutarco
7. A Divina Comédia (Inferno)
8. Horácio (Poesia)
9. El mio cid (Romances)
10. Amadis da Gália
11. Dom Quixote
12. Poesia: Idade de Ouro Espanhola
13. Gargântua e Pantagruel
14. Paraíso Perdido – Milton
15. Cronistas das Índias
16. –
Isso é o que eu tenho. Até hoje, lamento o grande erro que cometi ao não anotar o que ele me contava sobre cada obra enquanto ele fazia a lista. Não me lembro por que ele usou 2a e 3a, por exemplo. Qual era a lógica por trás dessa subdivisão? Também não me lembro por que o número 16 permaneceu vazio.
Estou ciente de que esta lista, que decidi compartilhar hoje, no décimo aniversário da sua morte, teria sido mais útil se contivesse observações mais precisas sobre o motivo pelo qual incluiu cada obra. Talvez seja por isso que sempre tive uma certa relutância em compartilhá-la.
Mas, recentemente, ao ver a emoção que a lista pendurada em uma das paredes da minha casa despertou numa amiga bibliófila, pensei que, independente de quaisquer erros jornalísticos na história que conto, poderia ter algum valor anedótico para aqueles que vierem a conhecê-la.
Também lembrei da grande frase que o próprio García Márquez disse ao publicar suas memórias: “A vida não é o que se viveu, mas o que se lembra e como se lembra para contar”.
Ao longo dos anos, li algumas Crônicas das Índias, Édipo, Mil e Uma Noites, A Odisseia, passagens da Bíblia, da Divina Comédia e alguns poemas da Idade de Ouro. Mas creio que o autor daquela lista maravilhosa e improvisada em uma tarde de abril não teria ficado descontente comigo por eu não ter dado o devido respeito a cada uma de suas recomendações.
É o que penso, a título de consolo, quando me lembro de outro conselho que ele me deu naquela tarde inesquecível, quando, em outra confissão constrangedora, admiti que ainda não tinha conseguido ler Dom Quixote: “O que recomendo é que você deixe o livro em cima do vaso sanitário, para cada vez que você sentar lá você ler um pouco.”
Ministro deixará comando da Justiça Eleitoral e será substituído pela atual vice-presidente da Corte.
De acordo com informações da Veja, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, já se prepara para deixar o comando do tribunal nos próximos meses, e está determinado a encerrar sua gestão da mesma forma como começou: “combatendo a desinformação e o discurso de ódio que representam uma ameaça à democracia nos dias atuais”, diz a revista.
Moraes está em meio a uma briga com o bilionário Elon Musk, que acusa o juiz brasileiro de violar a constituição do país e cometer reiterados crimes de abusos contra garantias fundamentais em uma democracia sólida, como o direito à liberdade de expressão.
O magistrado, conforme a reportagem, planeja concluir sua passagem pelo TSE organizando um grande evento internacional dedicado ao tema das fake news no processo eleitoral e ao impacto da chamada ‘desinformação na livre vontade do eleitor’.
O evento, agendado para os dias 21 e 22 de maio, será realizado em colaboração com a Fundação Getulio Vargas e contará com a participação de representantes da União Europeia.
Com a saída de Alexandre de Moraes, o comando do TSE será assumido pela ministra Cármen Lúcia.
O próximo concerto de Madonna, programado para ocorrer na Praia de Copacabana em 4 de maio, receberá apoio financeiro da prefeitura do Rio de Janeiro, conforme publicado na última edição do Diário Oficial do Município, divulgada em 8 de abril. A Bonus Track Entretenimento Ltda, organizadora do evento, será a beneficiária do patrocínio no valor de R$ 10 milhões.
A decisão de financiar o evento com recursos públicos gerou discussões sobre o uso desses fundos para um evento realizado por uma entidade privada, especialmente por se tratar de um concerto que faz parte das celebrações do centenário do Banco Itaú, do qual Madonna é embaixadora, juntamente com outras personalidades como Fernanda Montenegro, Ronaldo Fenômeno e Jorge Benjor.
Para justificar o investimento considerável na apresentação, a prefeitura divulgou, no sábado (13), um estudo elaborado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE), em colaboração com a Secretaria Municipal de Turismo (SMTUR). O estudo destaca os impactos econômicos diretos e indiretos de grandes eventos como este.
Segundo o comunicado, eventos de grande porte, como o concerto de Madonna no Rio, têm impactos econômicos significativos na economia local, além de influenciar aspectos culturais, políticos e de imagem de forma substancial.
Baseado em dados do Réveillon, o estudo estima que o público presente no show seja de aproximadamente um milhão de pessoas, sendo 85% provenientes do Rio e da Região Metropolitana, 12% turistas nacionais e 3% turistas estrangeiros.
Os números apresentados sugerem um aumento expressivo na movimentação de passageiros nos aeroportos e rodoviárias, assim como uma ocupação hoteleira quase completa em bairros como Copacabana, onde o evento será realizado.
O estudo também analisa os gastos médios dos diferentes perfis de público, indicando que o impacto total na economia do Rio, considerando os gastos dos espectadores, seria de aproximadamente R$ 293,4 milhões.
Além disso, destaca-se que o investimento público de R$ 10 milhões para o show de Madonna pode gerar um retorno significativo para a prefeitura, prevendo-se um aumento na arrecadação de impostos sobre serviços relacionados ao turismo, como transporte municipal, aeroportos e rodoviárias.
O documento conclui que, com base nessas estimativas e hipóteses, o investimento público no concerto de Madonna pode ser compensatório para a prefeitura através do aumento da arrecadação de impostos.
Na segunda-feira (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu na casa de Gilmar Mendes, em Brasília, para um jantar fechado com os também ministros do STF Cristiano Zanin, Flávio Dino e Alexandre de Moraes. A informação é do site g1.
Lula esteve acompanhado no jantar de Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública, e Jorge Messias, ministro da AGU (Advocacia-Geral da União).
Segundo o portal, “Lula queria não só fazer um gesto ao Supremo Tribunal Federal, como também debater a nova onda de ataques à Corte”: “houve uma espécie de consenso de que o ataque institucional ao Judiciário não só não perdeu tração desde o 8 de janeiro como passa, neste momento, por um processo de reforço, inclusive com um braço de ofensiva internacional, espelhado na retórica do bilionário Elon Musk”.
Os ministros do STF apontaram que faltam vozes de líderes alinhados ao entendimento de que sim, é preciso regular as redes sociais, e que estimulem ou mesmo pressionem o Congresso Nacional nessa direção.
Na manhã desta terça-feira (16), a Operação Munditia, realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo em conjunto com a Polícia Militar, resultou na prisão de três vereadores e mais 11 pessoas, incluindo um advogado. O objetivo da ação é desmantelar um grupo criminoso associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), envolvido em esquemas de fraudes em licitações públicas em várias cidades do estado.
Entre os vereadores detidos estão Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão; Flavio Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos; e Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel. Além deles, um quarto alvo ainda está sendo procurado.
Segundo as investigações, o grupo criminoso, com apoio de agentes públicos, incluindo vereadores, atuava utilizando empresas fictícias para simular concorrências em licitações públicas, visando firmar contratos fraudulentos para terceirização de mão de obra em diversas prefeituras do estado.
Os contratos sob suspeita ultrapassam a marca de R$ 200 milhões nos últimos anos, de acordo com o Ministério Público. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em 42 endereços, e outros 15 de prisão temporária foram executados pela 5ª Vara Criminal de Guarulhos.
A operação também resultou na apreensão de documentos que evidenciam práticas de corrupção, fraudes documentais e lavagem de dinheiro. Esta não é a primeira ação do Gaeco relacionada ao PCC em São Paulo; na semana passada, a ‘Operação Fim da Linha’ prendeu dirigentes de empresas de ônibus da capital paulista, também acusados de ligações com a organização criminosa.
As empresas Transwolff e UPBus, responsáveis pelo transporte coletivo nas Zonas Sul e Leste de São Paulo, foram alvos da ação, que resultou na nomeação de interventores da SPTrans para garantir a continuidade dos serviços de transporte público operados por essas empresas.
Imprensa amestrada é uma expressão criada por Helio Fernandes para caracterizar o comportamento dos jornalistas que se acomodam a viver às custas do poder, seja econômico, político ou social, em suas diferentes manifestações. A própria imprensa é considerada o quarto poder, mais importante do que o poder militar, embora não possa colocar tanques nas ruas.
Realmente, a função da imprensa tem um valor enorme na sociedade contemporânea e sua capacidade tende a se expandir, por ser o grande veículo de esclarecimento da sociedade. É claro que a comunicação entre as pessoas hoje é dominada pela internet, via celulares, mas a função crucial de esclarecer sempre será desempenhada pela chamada imprensa, por seus portais, sites e blogs.
Aqui no Brasil, a imprensa viveu momentos de apreensão devido à preparação do golpe que era e é considerado bolsonarista, mas na verdade estava sendo armado para evitar que uma figura execrável como Lula da Silva voltasse ao poder, após ter se livrado ilegalmente das grades.
ENIGMA BRASILIENSE – Há uma pergunta que ninguém quer responder e que ficará para sempre na História, como o enigma da Esfinge. Se o Supremo não tivesse libertado Lula e o aparelhado para voltar à Presidência, será que haveria alguma movimentação para golpe?
É claro que não. Somente houve essa perspectiva de golpe porque surgiu a ameaça da volta de Lula e tudo de ruim que ele representa, após Mensalão e Petrolão. As Forças Armadas tiveram de tapar o nariz para aceitar a candidatura dele e grande parcela dos brasileiros pensava exatamente a mesma coisa.
Aliás, quem raciocina com mais de dois neurônios, tem um mínimo de experiência de vida e não se deixa levar por fanatismos, com toda certeza sabe que Lula jamais foi “inocentado”, como diz o ministro aposentado Marco Aurélio Mello, que presenciou tudo isso no Supremo.
DEPOIS DO GOLPE – Em 2020, o Supremo assumiu um importante papel na defesa de democracia, o golpe foi um fracasso, o país logo voltou à normalidade. Mas surgiu um ponto fora da curva, porque os ministros do STF se acostumaram aos poderes excepcionais que assumiram.
“Por que o Supremo segue em mobilização permanente, como se o país vivesse num 8 de Janeiro interminável? São questões legítimas, que que nada têm de extremismo. Demandar a contenção do Supremo não é ser golpista, é só ser republicano”, desabafa o jornal Estadão.
A Folha foi ainda mais incisiva. Disse que Moraes, com decisões solitárias em inquéritos anômalos – conduzidos pelo magistrado e não pelo Ministério Público, o órgão competente –, reinstituiu a censura prévia no Brasil.
GRANDE CENSOR – “Ordens secretas de Alexandre de Moraes proíbem cidadãos de se expressarem em redes sociais. O secretismo dessas decisões impede a sociedade de escrutinar a leitura muito particular do texto constitucional que as embasa. Nem sequer aos advogados dos banidos é facultado acesso aos éditos do Grande Censor. As contas se apagam sem o exercício do contraditório nem razão conhecida”, protestou a Folha, com a devida veemência.
Também a Veja, com um artigo magnífico de Fernando Schüler, condena a atuação ditatorial de Moraes, que deixa o Brasil em má situação perante as demais nações democráticas, como se estivesse sofrendo um retrocesso institucional.
O comportamento da grande imprensa mostra que Moraes já ultrapassou todos os limites e não pode continuar a cometer arbitrariedades a três por dois, como se dizia antigamente. Chegou a hora de parar, antes tarde do que nunca.
Episódios recentes envolvendo o STF (Supremo Tribunal Federal), como a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão e a inclusão do dono do X, Elon Musk, no inquérito das milícias digitais suscitam importantes questionamentos jurídicos, que têm, entretanto, ficado em segundo plano, ofuscados pelo embate político levantado por grupos à direita e à esquerda.
Brazão (ex-União Brasil-RJ) foi preso em março por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes sob suspeita de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Os magistrados da Primeira Turma da corte já haviam ratificado a ordem do ministro e, na última quarta-feira (10), por 277 a 129 votos, a Câmara aprovou a manutenção da prisão.
MAU PRECEDENTE – No debate político, de um lado a direita disse temer a criação de um precedente que pudesse ser usado no futuro e queria, com eventual soltura do parlamentar, mandar um recado ao Supremo. De outro, parlamentares da esquerda defenderam que Brazão seguisse preso, clamando por justiça e contra a impunidade.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes tem paralelos com a prisão do senador Delcídio do Amaral (então no PT-MS), ordenada em 2015 pelo então ministro do Supremo Teori Zavascki no contexto da — àquela altura ainda aclamada — Operação Lava Jato.
Apesar das diferenças entre os dois casos, ambas as detenções levantam o debate sobre como o STF interpreta a Constituição, que diz que os membros do Congresso Nacional “não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável”.
CASO MUSK – Também quanto à inclusão de Elon Musk como investigado no inquérito no STF, a discussão ficou restrita à polarização política. Assim como em outros casos em que tomou decisões controversas, neste episódio o ministro Moraes não foi alvo de críticas da esquerda.
Na direita, por outro lado, o empresário que disse que descumpriria decisões judiciais brasileiras foi aclamado e tratado como herói. Em postagens no X, Musk também chegou a questionar Moraes quanto ao porquê de “tanta censura no Brasil” e defendeu o impeachment do ministro.
Em paralelo, ministros do STF voltaram a se manifestar fora dos autos, inclusive para posicionamentos sobre regulamentação das redes sociais. Ficaram sem serem debatidas a instauração de mais um inquérito de ofício e sua distribuição sem sorteio para a relatoria de Moraes, que é juiz e vítima.
ATO IMPENSADO – Tatiana Badaró, advogada criminalista e doutora em direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), considera que seria preciso um conjunto de elementos para além daqueles tuítes para uma medida grave como a abertura de um inquérito.
Juliana Cesario Alvim, professora de direito da UFMG e da Central European University, avalia de modo geral que, ao passo que a corte construiu uma espécie de jurisprudência de emergência para lidar com ameaças à democracia, é preciso estabelecer certos limites.
“É importante que isso seja demarcado. O que é o excepcional? E o que é o excepcional que corre risco de virar cotidiano?”, questiona.
SEM JUSTIFICATIVA – O professor de direito da USP (Universidade de São Paulo) Rafael Mafei vê uma instrumentalização da pauta da liberdade de expressão por parte de Musk e ressalta que o empresário não pode descumprir decisões tampouco ameaçar pessoas. Ele não vê, no entanto, que nos posts de Musk já haveria elementos justificando relevância criminal.
Já no caso da prisão do deputado, Mafei entende que, ainda que seja possível debater a argumentação jurídica do caso, a análise da Câmara quanto a prisão é o aspecto mais importante a ser respeitado e que ele carrega uma dimensão política.
Parte dos deputados defendia a soltura de Brazão, sob o argumento de que Moraes tem violado prerrogativas de parlamentares.