Ficará o mais do mesmo

Se uma imagem fica da semana que passou, deve  ser buscada nos versos de Cervantes sobre os Cavaleiros de Granada, aqueles que “alta madrugada, brandindo lança e espada, saíram em  louca cavalgada. Para que? Para nada…”

No fim, a montanha gerou um rato. Da reforma política tão decantada pela presidente Dilma, o Lula, deputados e senadores de todos os matizes, sobrou apenas a extinção  do direito  de reeleição para presidentes da República, governadores e prefeitos no período  seguinte a seus primeiros mandatos,   sem  necessidade  de desincompatibilização. Provavelmente terão, semana que vem, seus mandatos estendidos de quatro para cinco  anos, além da data de suas posses passar do esdrúxulo primeiro dia do ano para dez dias depois. Discute-se outra desimportante proposta, da coincidência num só dia  de todas as eleições nacionais, estaduais e municipais, mudança que afastará o eleitorado das urnas,  ficando em aberto, apenas, se os senadores disporão de cinco anos, como os  deputados, ou se dobrarão para  dez o seu período de sacrifícios para a nação.

No mais, tudo ficará como antes, ou seja, o sistema eleitoral permanecerá o mesmo, meio proporcional e meio majoritário. As empresas continuarão dominando as eleições através de empréstimos-doações aos partidos, por sua vez canalizando-os aos candidatos, que pagarão os vultosos investimentos na forma da aprovação  de leis e benesses favoráveis aos doadores.

Em suma, nada de novo sob o sol.  A Câmara dos Deputados deixou passar a oportunidade de aprimorar as instituições, assim como o Senado manterá os mesmos postulados político-eleitorais, retornando-se apenas à nossa tradição histórica de proibir reeleições. Uma experiência  canhestra que não deveria ter  sido intentada,  não fosse  pela  ambição  desmedida dos tucanos no período em que galgaram o poder.

Sequer uma das maiores aberrações jurídicas dos tempos modernos foi suprimida. No caso, as medidas provisórias próprias do parlamentarismo e impostas ao presidencialismo, quando governo e Congresso esquecem seu caráter, que deveria ser de urgência e relevância,  para transformá-las  num balaio de  caranguejos, ratos e jabotis.

Não se dirá que a população frustrou-se  com a reforma política em vias de escoar pelo ralo, já que a maioria dos cidadãos pouca ou nenhuma  atenção deu às reuniões parlamentares da última semana. Mesmo assim, perdeu-se mais uma oportunidade de passar o Brasil a limpo. Ficará o mais do mesmo, para satisfação das elites e econômicas e políticas. Um monumento deverá ser erigido na já arquitetonicamente conturbada  Praça dos Três Poderes: um centro comercial cheio de lojas, lanchonetes, restaurantes, biroscas e luxuosos gabinetes para deputados, ao preço mínimo de um bilhão de reais.

Ainda sobre a reforma política, deve-se ressaltar momentos de baixaria explícita verificados no plenário da Câmara durante debates onde deputados demonstraram péssimas relações com o vernáculo e as boas maneiras.

Se uma imagem fica da semana que passou, deve  ser buscada nos versos de Cervantes sobre os Cavaleiros de Granada, aqueles que “alta madrugada, brandindo lança e espada, saíram em  louca cavalgada. Para que? Para nada…”

 

Carlos Chagas

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